terça-feira, 29 de abril de 2014

Educar para ser feliz?

Preciso respirar fundo e, antes de trazer luz a essa situação, mandar todo meu amor e acolhimento para esse menino!
Faço minha denúncia de outra forma: ninguém aprende a ser pai e mãe e mais do que isso, as pessoas passaram pela escola, mas seguem se tratando desse jeito, perpetuando o bulling, o desrespeito, a violência, quando o que todo mundo quer é ser feliz e ter um pouquinho de paz…Por que então, não começamos a fazer isso acontecer já, agora, em nossas casas, com nossos filhos, que reproduzirão o que acontece com eles na infância?
Se a gente aprende a ser pai e mãe, sendo, que pelo menos possamos aprender a sermos humanos antes de sermos pais. Falar em bulling, desrespeito, violência e “ser humano” te parece muito forte? Fora do contexto? Vamos por partes:
Bulling: os olhos de pais, mães e educadores e pesquisadores no mundo todo estão voltados para essa prática e esse conceito. Bulling é uma forma complexa de violência, que pode ser silenciosa e cruel, para além do que nossos olhos conseguem ver e perceber como violência. Pesquisas apontam que vítimas de bulling desenvolvem medo, ansiedade e podem inclusive, com números bastante altos, chegar ao suicídio.
Você me diria: “Ah! Mas isso é muito forte, não acontece por aqui, só na televisão, nas escolas públicas e nos Estados Unidos…” Nada disso! Laura Gutman explica muito bem isso e há mais de 30 anos é pesquisadora do desenvolvimento humano: as violências se tornaram tão comuns, que as pessoas não percebem mais os absurdos que estamos fazendo, sem refletir quando reproduzimos frases e ações advindas de uma sociedade patriarcal que funciona segundo a lógica de que alguém tem que dominar alguém e outro alguém tem de ser dominado.
No livro “Amor o Dominación: los estragos del patriarcado” Laura Gutman argumenta que se continuarmos vivendo segundo parâmetros de competências, será muito difícil conseguir modos de convivência que incluam o respeito mútuo. Ela afirma que precisamos entender que todos dependemos da cooperação e não da competição, que a hierarquização de uma parte da população sobre a outra não tem funcionado e que a diversidade não significa superioridade ou inferioridade de condições.Precisamos, conscientemente, refletir sobre o Amor ou a Dominação, a Solidariedade ou a opressão para desativar esse modo de operar de forma automática que não nos faz mais feliz!
Essa idéia de que o adulto precisa ser superior à criança e que esta deve respeito ao adulto é fruto dessa configuração social que tem trazido tanta discórdia, tanta violência, tanto desrespeito e tanta tragédia! A criança, como o adulto, deve aprender e entender que precisamos respeitar A TODOS. E ela aprende isso, sendo respeitada! Algumas pessoas diriam:
“Ah, mas ela é criança!”
Justamente por isso, precisamos perceber o que estamos fazendo com elas, como as temos tratado, para que o resultado seja o que temos visto: adolescentes desrespeitosos, agressivos, adultos que não só desrespeitam aos outros como a si mesmos!! Já pararam para pensar que quando tratamos alguém bem, seja lá quem for, esse alguém nos trata bem também? É simples assim, crianças tratadas com respeito, respeitam aos outros (e não só aos adultos, como as outras crianças).
modus operandi a que estamos habituados como sociedade tem muitos argumentos sobre as crianças: que elas fazem manha, que elas são agitadas, que não se concentram, que precisam aprender a respeitar os mais velhos, que estamos sendo dominados pelas crianças e seus quereres…Mil desculpas para não olharmos para nós mesmos, para jogarmos para os outros (no caso as crianças) a responsabilidade de se comportarem como adultos…não parece absurdo? Estamos invertendo os papéis!! Se nem os adultos se comportam como adultos, se nem ao menos conseguem responsabilizar-se por suas próprias escolhas, se estamos sempre culpando os outros pelo que acontece no mundo e conosco…E somos nós, adultos, que temos de ensinar, através de nossos exemplos, como respeitar, como cooperar, como digerir nossos sentimentos e lidar com eles sem ter “xilique”. Quanto adulto dá xilique por aí?
Resultado de violência. Sim, damos “piti” quando não sabemos lidar com nossos sentimentos, porque desde crianças não somos verdadeiramente escutados e orientados amorosamente e isso é violência, das piores, silenciosas. Qualquer comportamento da criança é entendido como “manha” ou “estrago” ou “inadequado”, e os adultos, sem saberem como lidar com a vergonha de ter o filho que se atira no chão do supermercado ou enfrenta nossos mandatos ou demonstra fragilidade, ficam nervosos e agem com sarcasmo, opressão, intimidação, ameaça (verbal, física, silenciosa).
Eu não aprendi a respeitar as pessoas porque apanhei, sinceramente, às vezes ainda acho que gritar funciona porque amedronta o outro e, se o outro sente-se mais fraco, ele faz o que quero. Aparentemente funcionou, mas a relação se quebra, a confiança se esvai, o respeito já tinha ido antes e assim se constróem relações aparentemente cordiais, um com medo, o outro sentindo-se superior e assim caminha a humanidade: a um abismo de solidões e infelicidades dos quais precisamos despertar. Aliás, eu respeito quem admiro!
As crianças vivem em um mundo cheio de fantasia, de realidades internas diferentes das nossas, porque seu amadurecimento físico, cognitivo e emocional está em constituição. Mesmo que o que ela diga, para nós, não seja “bem assim”, faz parte de sua realidade interna e precisa ser acolhido com respeito e direcionado com amorosidade. Se ela diz, como o menino do vídeo, na hora de estudar: “A vida não é fácil!” e o pai constata: “Então por que quando você está na piscina, no karatê e no futebol é fácil? Por que quando tem que estudar pra ser inteligente, você não quer? Só quer a vida pra brincadeira?”
SIM!!! Criança aprende brincando, já está mais do que provado pela ciência.  Por que esse pai não se pergunta a si mesmo sobre isso? Tem fundamento! As crianças pequenas, por mais que a legislação brasileira tenha imposto o primeiro ano a partir dos 6 anos, estão em franco desenvolvimento físico, e as experiências físicas (como nadar ou qualquer brincadeira que envolva atividade do físico) são suporte para um desenvolvimento cognitivo e emocional futuro. Quando a criança brinca, está desenvolvendo seu pensamento. E mais, a neurociência explica que se ela tem esse espaço preservado, não sofre ameaças e sente-se amada e acolhida, desenvolve inteligência. E aqui não estamos falando em reprodução de conteúdo: a inteligência emocional é a grande sacada de pessoas bem sucedidas na vida: felizes!
Veja aqui dois minutos da sabedoria de minha mestra Maria Amélia Pereira, para arrebatar tamanha tristeza pelo vídeo do menino!Esta conversa está pesada demais?
Fechar os olhos para as violências silenciosas e as idiossincrasias do mundo, dói menos, dá menos trabalho, mobiliza-nos menos internamente…Mas também perpetua os estragos que temos visto na sociedade, desde a corrupção, passando pela violência obstétrica até a forma como cada um de nós se sente todos os dias, lá no íntimo, quando sai de casa.  Não consigo rir nem ficar quieta diante do posto no vídeo do menino que conclui: “A vida não é fácil”. Por que a gente precisa mostrar às crianças que existe na vida um lugar (na família, junto aos que amamos, ou dentro da gente) que vai nos acolher, apensar das coisas diversas da vida. Uma criança que conclui isso, vai perpetuar o que?
Você ainda diria que “não é pra levar tão a sério, fazer tempestade em copo d’água, porque é só uma criança”?  É por isso que a gente segue se desrespeitando! Que a gente segue buscando felicidade fora da gente, pensando no futuro e não no presente, até porque viemos de uma infância onde pensaram isso sobre nós também, não é? O que faremos com isso?  Cada um sabe o que pode fazer, para mudar, a partir de si, as relações que estabelecemos com as crianças e como as ajudamos a serem adultos melhores que nós.
Mas se você entende da mesma forma que a Comunicação Não Violenta, a Maternidade Ativa e Consciente são das coisas mais preciosas que podemos exercitar para mudar a visão dos meninos sobre a vida, vamos juntos! Divulguem essas idéias, clicando nos links das redes sociais abaixo para que possamos mostrar que há saída e que ela está dentro de nós, nas nossas atitudes.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Fazendo nossa parte para promovermos nascimentos mais humanos e, como consequência, uma sociedade mais equilibrada.

Este post é um convite para todas as pessoas refletirem como deram à luz, como foram levadas aos mais de 80% de cesarianas (principalmente quem tem convênio de saúde), para olharmos o que realmente aconteceu conosco, se os motivos que nos levaram a cesária eram motivos baseados em evidências científicas ou indicações fictícias (que você pode conferir aqui no site da Dra. Melania Amorim, médica obstetra, pesquisadora, mestre, doutora, pós-doutora duas vezes, especialista e professora universitária).

Refletindo com sinceridade, saberemos em que caso nos encontramos. Eu passei pela violência que considero a mais perigosa, porque é mascarada, silenciosa, que perpetua uma cultura da Industrialização que hegemoniza não só os nascimentos, como a educação, e que exatamente por isso, produz uma sociedade doente, infeliz, violenta. Como todos nós queremos ter paz e ser felizes, a reflexão honesta se faz necessário para que consigamos fazer escolhas mais conscientes e paremos de fazer as coisas "porque é assim", "porque me disseram que é isso" ou "porque não tem outro jeito". Somos seres humanos dotados de muita cultura e história que nos fizeram evoluir e por isso podemos refletir sobre as coisas que achamos "normais" e que seguem nos fazendo sofrer.

Bióloga, mestre em psicobiologia, doutora e pós-doutora em farmacologia, hoje terminando novo doutorado, em Saúde Coletiva, pesquisadora da assistência ao parto no Brasil, da violência obstétrica e da medicalização da infância e do corpo feminino. Mãe da Clara, que ela considera seu mais relevante título, Lígia Moreiras Sena está em fase de coleta de dados em sua pesquisa de doutorado e nos convida a participar e contar o que vivenciamos.




A pesquisa dela é de grandissíssima relevância não só no mundo científico, mas principalmente pela repercussão social que pode ter. Por esse motivo, penso que quanto mais pessoas puderem participar de sua pesquisa, a realidade obstétrica pode ser compreendida de forma mais ampliada e mais clara e, a partir do conhecimento dessa realidade, sim, podemos mudar a forma como nascem as crianças em nosso país e que determina o tipo de sociedade que temos.