quinta-feira, 27 de março de 2014

De corpo (mente, coração e espirito) presente!

Adoro desafios, eles me mostram uma página em branco, uma possibilidade de pitar a página em branco com novas cores, formas diferentes, imaginar o que eu quiser, e para mim isso é confortável! E é com isso em mente que escolhemos algo desconhecido, que estamos olhando com mais atenção para nós enquanto estamos com nosso filho e exercitando mais a escuta amorosa e atenta ao que ele manifesta (mesmo que nas entrelinhas).

Nossa sociedade está constituída de tal forma que pouco depois que os bebês nascem já somos chamadas para longe deles, trabalhar, produzir e deixar nossos filhos aos cuidados de outras pessoas. Valorizo o trabalho, amo estudar e produzir, mas neste momento quero aliar as duas coisas, mas mais do que isso, ficar mais tempo com meu filho. O crescimento deles acontece num piscar de olhos e se ficamos longe deles a maior parte do dia, não vemos mesmo por que caminhos eles estão pisando, com que pedras tem se deparado, em que águas tem banhado suas alegrias.

A evolução da sociedade tem nos permitido, inclusive, rever como estamos produzindo, como vivemos e o que queremos para o mundo, ou que mundo queremos para nossos filhos. Muitas empresas já tem horários flexíveis, muitas pessoas têm tornado-se empreendedoras ou profissionais liberais, justamente para conseguir fazer escolhas mais conscientes (no sentido de poder escolher o que deseja para sua vida e não ser arrastado pelas circunstâncias).

Algumas mães com quem converso já me disseram: "tenho que ir trabalhar, fazer o que?" Respeito. Porém não acho que a vida é encerrada em poucas opções. Ao contrário, nós somos protagonistas de nossas vidas e podemos escolher viver de outras formas, se quisermos, trabalhar de outros jeitos e em outro lugares, quem sabe? Não precisamos nos encerrar a vida toda esperando a aposentadoria chegar, muita coisa passa enquanto esperamos o final de semana, as férias, a aposentadoria. Temos todas as opções do mundo para nos sustentar e viver melhor.

Estar mais tempo com meu filho hoje significa trabalhar só de manhã, enquanto meu marido fica com ele e estar com ele todas as tarde, enquanto meu marido trabalha. Significa mais que isso, levá-lo à natação e ficar lá olhando ele se relacionar com os colegas e com seus limites e potencial. Levá-lo à pracinha e brincar com ele no balanço, vibrar com suas conquistas, estar apoiando para fazer novas amizades. Ligar muito menos a televisão e chamá-lo para ajudar a colocar a mesa, fazer bolo juntos, arrumar a cama, ele é um ajudante e tanto! Todas as crianças são, adoram ser úteis para mamãe e papai, faz parte da construção da autoestima deles!

Também significa olhar mais para minhas reações ao que ele faz e o que sinto quando ele me contraria (e ele faz muito isso). Estar presente no instante em que "ele me tira do sério" e me questionar internamente: "Por que o que ele está fazendo, me tira do sério? Por que quero obrigá-lo a fazer algo que ele está dizendo que não quer? Por que estou tão sem paciência hoje? Onde e por que deixei de me divertir? Por que não pode? O que será que ele está querendo dizer com isso? Por que estou apressada e por que estou querendo fazer outra coisa enquanto estou aqui?"

Tenho questionado sinceramente essas coisas, penso que mesmo que se fique um mínimo de tempo do dia com as crianças, podemos estar mais alertas a essas ações e reações silenciosas e que marcam toda uma existência. Percebo que são coisas que passaram de geração para geração e que vão marcando a vida de quase todo mundo, quando "o outro é o culpado pelas mazelas da minha vida, quando não me responsabilizo pelo que estou sentindo, quando fazemos ou dizemos coisas 'por que é assim', repetindo coisas que nem fazem mais sentido só porque não paramos para refletir mais profundamente sobre elas, quando seguimos regras que nem servem mais para nós, porque estamos acostumados, etc".

As crianças aprendem por imitação, elas imitam nossos gestos, nossas reações, nossas caretas, nossas sutilezas, nosso abandono, nossa presença e nossas idiossincrasias. Estarmos atentos ao que estamos oferecendo para que eles imitem e se constituam, é o que estamos exercitando neste momento.

Perfeição? Não! Nem sempre estamos presentes, às vezes com mil coisas na cabeça, tentamos brincar com ele, mas ele percebe que estamos em outro lugar, queremos cumprir outras tarefas, às vezes ainda insistimos com regras que nem tem tanto sentido para nós se pararmos para pensar, porque foi assim que fomos criados e repetimos isso naturalmente sem questionar. Quando lutamos com a presença, o Lucano manifesta isso na hora com mal comportamento, com birra, com agitação. Se conseguimos ouvi-lo, sentir mais do que pensar e agir com ele com mais acolhimento do que por exigência, tudo flui e saimos todos felizes.

Isso não significa de forma nenhuma que "ele faz o que quer", justamente porque algumas pessoas acham mais fácil não entrar "no embate", porém não se trata de um "embate" se trata de uma relação de amor, onde estou exercitando estar 100% presente com ele, respeitando sua individualidade, sabendo que mesmo que ele seja pequeno ele tem vontades e predileções. Mesmo assim, tem hora para algumas coisas, outras não vai poder mesmo, algumas a gente pode negociar, outras não, às vezes ele vai espernear, mas não vai dar mesmo, enfim, enfrentar isso de coração aberto, ouvindo com atenção e respondendo com mais amorosidade é um exercício difícil mas muito, muito recompensador!

Já vimos que para conseguirmos, é preciso muita entrega, atenção plena e honestidade sobretudo conosco...e o mundo em massa realmente ainda pensa que "o mundo não pára para isso" ou dá muito trabalho. Realmente, dá trabalho, um trabalho interno duro, mas muito menos trabalho do que ter um adolescente ou adulto revoltados com a vida, inconscientes de sua potência, que necessitam de altas doses de adrenalina (ou outras coisas) para sentirem-se plenos, que trabalham pra burro e não tem tempo para serem felizes, depressivos, obesos, sentindo-se sozinhos na multidão, hiperativos ou com défcit de atenção, ou os dois!

Quem acelera ou desacelera o mundo somos nós, estamos exercitando a presença. Quem quiser venha junto, e nos apoiamos e crescemos juntos, com as alegrias e adversidades!