quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Parto! Que parto!

Já falei muitas vezes sobre ele, tem pesquisas científicas e textos muito preciosos para podermos nos preparar para ele inclusive até antes de engravidar, porque as escolhas que tomamos (ou somos levadas) podem ser conscientes, baseadas em cientificidade e não na cultura do medo.

Este último mês acompanhei uma gestante que me ligou com 39 semanas, dizendo que queria muito ter um parto normal e que tinha acabado de sair da consulta em que o médico pressionou dizendo que se ela não tivesse dilatação até a próxima semana, marcaria cesária...ou seja, acabou a produção de ocitocina, ela ficou tensa, o médico teve a capacidade de dizer a ela:

 "Você só precisa dilatar, o resto como estourar a bolsa ou fazer manobra pra o bebê descer, eu faço" (e nas entrelinhas vai um: se você não tem capacidade só pra dilatar, vai ter que fazer cesária).

Avisou: "Se a bolsa romper antes do Trabalho de Parto, tem que fazer cesária"
(ou seja, o Lobo Mal vai comer a chapeuzinho, seja lá o que ela tente fazer)

Fiquei arrasada!! Como a indústria do medo faz-nos confiar em médicos que desconsideram a natureza do corpo, a extraordinária capacidade que nosso corpo tem e, apressando as coisas, dão desculpas como: "Viu, você não dilatou"...ou "É, você não entrou em trabalho de parto, tsc, tsc, tsc". E a gente acredita na nossa falsa incapacidade, gerada por uma antecipação do tempo que não permite que o corpo (nosso e do bebê) esteja pronto.

Aqui tem textos muito bacanas sobre o parto, a violência no parto (sim, pressionar uma pessoa a fazer uma cirurgia no lugar do parto, é violência obstétrica):

Por que a cesareana com hora marcada é a opção menos segura de parto? da Flávia Maciel de A.F. de Mendonça, médica ginecologista.

Eu Acredito. da Kalu Brum, jornalista, doula fotógrafa, professora de yoga e meditação..

Violência Obstétrica by Ana Cristina Duarte, Obstetriz e Educadora Perinatal.

E todas as pesquisas feitas pela Dra. Melania Amorim, médica ginecologista e obstetra, mestre, doutora e pós doutora mais de uma vez (e muito mais)...Vejam em Estuda Melania, Estuda

E tem muito mais pra quem quer estar bem informada e bem preparada pra não cair na conversa de médicos que, aparentemente nos tratam super bem, são queridos e acabam nos levando a uma cesária desnecessária que produz efeitos colaterais tão desastrosos (incluindo os emocionais e relacionais)...

Sobre a Recusa de Procedimentos Médicos, das lindas e competentes profissionais do "Você quer parto normal? Pergunte-me como."

E, claro, a Cientista que virou mãe, Ligia Moreiras Sena.

Dois vídeos sobre o assunto:
Violência Obstétrica, a voz das brasileiras. 
Produzido por Bianca Zorzam, Ligia Moreiras Sena, Ana Carolina Franzon, Kalu Brum, Armando Rapchan.


Que nenhuma outra gestante passe por violência obstétrica (mesmo e inclusive, velada, com cara de "sou querido e estou cuidando de você"...porque você não sabe se cuidar...)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Aleitamento e Complemento: Importante pensar!

Quantas mães não ouvem dizer que depois de determinada idade já não precisam  

amamentar porque o seu leite deixa de ter benefícios? A OMS recomenda que se amamente

em exclusivo (apenas leite materno) até aos 6 meses e que se prolongue, em conjunto 

com outros alimentos, até pelo menos 2 anos de vida da criança.



Minha amiga e parceira de uma jornada bacana, Ligia Moreiras Sena, que eu gostaria de conviver muito mais, escreveu um texto MARAVILHOSO sobre Aleitamento e Complementação, sob o cuidado e embasamento de quem é pós doutora e sabe MUITO BEM o que está falando. Ela lançou, em Junho, uma postagem coletiva sobre o assunto e por ocasião disso, pesquisou e encontrou um texto de Marina Ferreira Rea, intitulado "Substitutos do Leite Materno: Passado e Presente" que recomendo muito, mas peço licença para a Ligia e deixo-as com o importante texto dela, para que todos possam ter informação correta e criticidade necessária sobre a industria da medicina:

Aí vai o texto da Lígia, do Blog Cientista que virou Mãe: ela faz uma introdução dizendo como encontrou o texto da Marina, resume algumas idéias interessantes da pesquisa e, como só ela sabe fazer, discorre sobre o assunto com conhecimento de causa. Agradeço à Lígia!!!

"A despeito de ser um texto relativamente antigo, de 1990, é absolutamente atemporal. Traça todo o histórico da criação e propagação comercial e social dos substitutos do leite materno. E é um daqueles artigos que, durante a leitura, vai te dando vergonha de fazer parte da espécie humana, que muitas vezes é Homo nada sapiens. A história dos substitutos do leite materno é uma história mais ligada ao comércio que à saúde, sinto lhes dizer... E é uma história muito feia.
Nesse artigo, há uma diversidade de informações essenciais, daquelas que todo mundo precisaria ter acesso.
Por exemplo:
  • historicamente, quando um bebê não era amamentado por sua mãe - o que por si só já era um evento raro - era o leite do peito de outra mãe que o alimentava. Eu, particularmente, gostaria de estar vivendo num mundo em que as amas-de-leite não fossem mais artigos raros. Talvez tenha sido por isso, também, que fiz questão de doar muitos e muitos litros de leite para o hospital infantil da cidade, quando a minha produção ainda não havia se regularizado;
  • o primeiro a recomendar o uso do leite da vaca como alternativa ao humano foi um médico chamado Underwood. Sabe quando? Em 1784. O interessante é notar o contexto histórico da época: as mulheres burguesas e as que tinham melhores condições financeiras recusavam-se a amamentar seus filhos, vejam só que coisa...
  • foi um outro médico, chamado William Cadogan, que, embora defensor do aleitamento natural, instituiu a regularidade das mamadas, ou seja, que os bebês fossem alimentados em horários fixos, a cada 4 horas. Foi ele também que "proibiu" as mamadas noturnas. E você sabe por quê tantas regras? Porque ele, pessoalmente, acreditava que alimentar um bebê era um momento de lhe passar uma infecção. Meio problemático esse doutor, não? Isso no século 18, tá? Então, minha querida, se você é daquelas que colocou horário para a mamada porque sua doutora disse que era pra fazer assim, sinto lhe dizer: você não é nada moderninha, você é antiquada pacas. Ouso até dizer que você é demodê, baby, datada mesmo. Sai dessa, fofa. Vem pra modernidade. Seu bebê não é relógio. Ele é um bichinho. E, como tal, tem fome a qualquer hora;
  • essa parafernalha toda de fórmulas, complementação e tal começou com o leite condensado - que não era propriamente o leite condensado que a gente conhece hoje. Mas foi difundido comercialmente por uma empresa cujo nomezinho você conhece até hoje: Nestlé. E só foi difundido assim tanto porque coincidiu com o momento da revolução industrial, quando as mulheres passaram a trabalhar grandes cargas horárias, mesmo na época da amamentação. O seguinte trecho, inclusive, está nesse excelente artigo:
"Page, um americano que formara na Suíça a Anglo-Swiss Condensed Milk Co., supôs corretamente que o leite condensado produzido podia ser estocado e utilizado pela população em crescimento da Inglaterra no período da industrialização". 
Ou seja: o substituto do leite materno não foi feito "com carinho, com amor, para mães alimentarem, também com amor, seus filhos". Foi feito pra população cair de boca no trabalho. Foi feito pensando no crescimento da industrialização, do capitalismo selvagem. Quando certas indústrias, portanto, usam o slogan "Faz bem", não está mentindo. A questão é: faz bem pra quem, neném?

  • o artigo também chama a atenção para a relação digamos, "íntima", que existe entre os fabricantes de substitutos ao leite materno e os médicos. A autora cita, inclusive, uma outra referência para dizer que
"os fabricantes vendem, mas os médicos controlam: uma relação mútua vantajosa entre médicos e companhia de alimentos infantis está estabelecida". E afirma que essa mesma referência utilizada sugere que os médicos estão desejosos de cooperar porque vêem na alimentação artificial um meio de controlar os pacientes "porque estes passariam a procurá-los mais".
Se, nesse momento, você está achando tudo isso muito exagerado, vou te contar uma coisa. Eu perdi as contas do número de mulheres que já me contaram terem saído da maternidade com uma prescrição de NAN. Sabe? NAN? Aquele complemento que é dado quando a mulher não consegue produzir leite suficiente, ou quando não é bem orientada, ou quando simplesmente não quer amamentar? Tem muito médico por aí sim senhora prescrevendo NAN como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Mais natural do mundo? Peraí, senhor doutor. Alto lá. O mais natural do mundo é amamentar. Dar complemento não é natural. Complementação deveria ser utilizada APENAS e SOMENTE quando a mãe, por diferentes motivos, não está conseguindo produzir leite em quantidade suficiente. E concomitante a tantas técnicas e compostos lactogogos (que induzem a lactação) que existem. Eu, que sou doutora mas não sou médica, conheço vários, imaginem vocês que estudaram para isso - ou que deveriam ter estudado, pelo menos...

Dar receita de complementação para uma mulher que tem total condição de amamentar é ir contra o "a ninguém darei por comprazer nem remédio nem um conselho que induza a perda", do juramento de Hipócrates. Ou, ainda, é agir contrariamente à Declaração de Genebra, quando esta diz "não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza".

Não se engane você, distinta e consciente mãe que utiliza complementação por não ter podido amamentar - a despeito de querer muito -, pensando que foram feitos para você e seu filho. Não, não foram. Os substitutos ao leite materno foram desenvolvidos pensando naquelas mães que OPTARAM por não amamentar. Porque aquelas que, por razões diferentes, não conseguiram amamentar, tinham seus filhos alimentados por outras mulheres, por mães-de-leite, por amas-de -leite. As fórmulas e complementações tiveram sua origem visando especificamente um público: as mães que NÃO QUISERAM amamentar.

Uma mulher que não quer amamentar está negando ao seu filho o direito básico da melhor saúde que poderia ter desde o nascimento. E não, essa não é a minha opinião, essa é uma constatação. E é pra você, ó nobre senhora, que toda essa parafernalha midiática é feita.

A complementação, os substitutos ao leite materno, salvam muitas vidas e, quando bem administrados, mostram incontáveis benefícios. E é para isso que deveriam ser utilizados. No entanto, existem muitos estudos mostrando que a quantidade de bebês que realmente necessita dos substitutos ao leite materno é muito pequena. A autora do artigo que menciono neste texto, inclusive, faz o seguinte comentário:
"os lucros das companhias, entretanto, não teriam sido auferidos se só este mercado [os dos bebês que realmente precisam de complementação] fosse atingido. Daí a tarefa de criar nas mães (e nos médicos) a "necessidade" de tais produtos formulados ter sido dever bem cumprido através das técnicas de "marketing" por todos esstes últimos cem anos. A imagem do produto perfeito, que leva a bebês robustos e facilita a vida da mulher, é vendida com toda a sofisticação e invade os vilarejos mais distantes". 
Eu não precisei oferecer complementação à minha filha, com a graça da Deusa das Divinas 
Tetas, a quem agradeço todos os dias com toda devoção. Se precisasse ter oferecido por não ter podido amamentar, faria com a consciência tranquila de estar fazendo o que é melhor pra ela, depois de tentar tudo o que fosse possível para amamentar. Mas não me deixo ser pescada por outros produtos dessas mesmas indústrias. E é por isso, também, que eu não ofereço à minha filha nenhum tipo de alimentação pronta de indústrias como essas. Nenhum potinho. Porque acho que já tem mulher demais sendo pescada pelas promessas de aparente facilidade e saúde "enfrascada".

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O choro das crianças por Laura Gutman

Já falamos algumas vezes sobre o Choro das Crianças. É um tema que tira o sono e, muitas vezes, a estabilidade das mães (se bem que na maioria dos casos, como diz a própria Laura Gutman, nós já estamos instáveis, os pequenos apenas refletem essa instabilidade para nós mesmas...)

Aqui temos um vídeo curto, mas com dicas muito bacanas sobre como podemos encarar o choro dos nossos pequenos:

É um vídeo não listado, por isso, é preciso acessar no youtube através deste link:
http://youtu.be/hb6BML_XUbU

Livre tradução:
"...Meu filho chora todos os dias antes de ir à escola.Não sei mais o que fazer para que vá feliz...
Para começar, precisamos lembrar que a criança sofre. Por acaso precisamos de mais evidências? Mudemos a nós mesmas, ao invés de querer mudar a criança. Precisamos detectar se a professora é rígida ou autoritária, se as demais crianças são hostis,  se sente-se sozinho ou se passa horas demais na escola. Perguntemos a nosso filho o que ele gostaria e busquemos alternativas que possam satisfazê-lo. Deixemos de lado nossas posições sobre o correto ou incorreto. As crianças estão mais conectadas com seus seres essenciais, por isso podem traduzir aquilo que não está bem para eles. Se ouvimos nossos filhos e nos deixemos guiar por eles, dificilmente nos equivocaremos."

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Nossos filhos crescem...e precisam de escolas, professores...

Escolas, escolas...Quando comecei a pensar em "escola" estava dando aula na Universidade e vi tantos olhos apagados na platéia, tão acostumados a copiar e colar, preguiçosos de criar, de pensar, de se colocar...Claro que encontrei com muitos olhinhos brilhando, cheios de esperança de mudar o mundo, mas os outros mexeram tanto comigo que pensei: Preciso trabalhar com a pontinha do Iceberg, e pra mim ela é o nascimento, o primeiro ano de vida, a primeira infância.

Estamos todos despreparados para sermos pais e mães e com isso, deixamos crianças despreparadas para serem o melhor delas também...Mas não há culpas!!! Somos todos produto de um sistema educacional que segue a mesma lógica há séculos, desde a Revolução Industrial, acreditam? Nosso modelo de escola comum é o mesmo desde lá...Porém a sociedade inteira já se transformou, as pessoas tem informação onde querem e na rapidez que querem, as crianças estão muito mais rápidas e espertas do que éramos há 30-40 anos...Não é de se esperar que a educação acompanhasse isso tudo?

Pois há muitos projetos educativos interessantíssimos que entendem toda a responsabilidade de ajudar o ser humano a ser mais feliz, mais autêntico, mais interessado pelo mundo e mais inteirado de si mesmos. Um deles é a Escola Caminho do Meio, minha paixão, a qual rendo meus amores e agradecimentos a cada profissional que dedica seu tempo.




O outro é este, olhem que bacana: Universidade das Crianças

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lucanices!

Ter escolhido ficar com meu filho por dois anos em casa foi a melhor decisão que tomamos! Muitas pessoas pensam que isso é utopia de quem "pode"...Estudei muito para entender que "todo mundo pode". Como traz Ken Robinson, a moeda do mundo é a criatividade, e eu ainda acrescentaria: e o mundo precisa de coisas e serviços e pessoas tão diversas, quando há gente em seu chão! Nosso trabalho pode ser o que a gente quiser, desde que a gente tenha brilho no olho e amor pelo que faz!

E foi pensando nisso que passei a trabalhar em casa, no meu Studio de Desenvolvimento Humano, fazer trabalhos pontuais na Unimed e, claro, não poderia ter deixado de olhar com todo meu amor pra Escola Caminho do Meio, de "quem" já falei algumas vezes aqui. E por trabalhar bastante em casa, acompanho cada curva do meu pequeno. Isso é muito precioso, vemos como ele passa a pensar, que escolhas toma e porque, entendemos seus movimentos físicos e emocionais e por isso, podemos acolhê-lo exatamente sobre o que ele precisa (e não necessariamente, quer).

Hoje o Lucano está meio período na escola que administro, pensando em uma educação libertadora para nossas crianças todas. No período da manhã ele fica comigo e/ou com o Alberto. Assim, conseguimos pegar cada pérola do desenvolvimento dele, que me alegra muito! Chamo as sapequices do Lucano de Lucanices e anoto-as todas, para que ele possa ler sua própria história, quando quiser.

As dessa semana são estas:

-Na casa da vovó:
-Princesa, você quer casar comigo?
-Quero.
-O casamento vai ser aqui no meu submarino, vem!
E lá se vai a vovó pra trás do sofá, digo, do submarino do Lucano...

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-Mãe! (adoro quando ele começa suas frases assim!) Porque você e o papai casaram?
-Por que a gente adora ficar junto, conversar, namorar e nos amamos...
-E eu?
-A gente queria muito ter você.
-E se eu for adulto?
-Você vai poder casar, se quiser...
-Eu vou querer casar com você!
-Porquê?
-Por que eu gosto de você!
(Aí meu coração derrete todo!)


...
-E se tivesse uma menina homem? (agora é tudo:" e se...")
-Ou é menina ou menino...ou é mulher ou é homem...
-E você é o que?
-Mulher...
-E eu?
-Menino.
-Não! Sou homem! (falando baixinho: "me chama de homem!")


Adoroooooo!
 Taí a foto do baita homem, com bigode de feijão, que contracenava comigo nessas brincadeiras de viver!



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Por que os bebês choram? Parte 2



E o assunto "choro" não passa! Reparem então em suas emoções ou desejos...
Os bebês são um reflexo de nós. Existem coisas que não estamos a fim de enfrentar em nós mesmos e relegamos às nossas sombras, pois essas coisas não passam despercebidas sob a pele sensível de nossos pequenos! Tem bebês que choooooooooooram, mas chooooooooooram, e os pais não sabem mais o que fazer, não é mesmo?

Então eles me perguntam: O que esse bebê tem????
E eu os pergunto: Espera um pouco. Como você tem se sentido? Por que tem vontade de chorar?
Como diz Laura Gutman, em menos de meio minuto essa mãe enche os olhos de lágrimas!
Aí sim, vamos ver porque o bebê chora!

Quando estava nos dias mais difíceis de choro do Lucano, eu passei a fazer algo interessante:
Ele começava com aqueles choros sem fim e eu sentava na poltrona com ele, abraçava e ia dizendo em seu ouvidinho (mas era um dizer pra mim mesma): "Calma, tá tudo bem, calma" Assim, eu ia respirando fundo, dizendo isso bem baixinho e ME acalmando...logo ele ia se acalmando também!

Pensem nisso! Dá pano pra manga!
Podemos conversar nos grupos sobre isso, não é?

Um beijo, Ju

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Por que os bebês choram? Parte 1


Esta semana vamos falar sobre um tópico que aflige TODOS os pais, acho até que todas as pessoas em geral...afinal é só uma criança chorar que lá vem alguém dizendo: "Não choooooraaaa!".

Ninguém aguenta ver outra pessoa chorando e, por mais que não reconheça, isso mexe com nossos choros internos, nossas angústias e nossa incapacidade de fazer o outro feliz...É verdade, o outro só vai ser feliz se ele quiser, não fosse isso, todos os terapeutas estariam ricos e ninguém mais se suicidava nesse mundo, não é?

Enfim, estamos falando de um choro que é ainda mais difícil de ouvir, por que é o do nosso filho! A gente quer é que esse choro pare logo! Mas se pararmos para pensar que o choro é a linguagem dos bebês mais audível, é por causa dele que os pais conseguem descobrir por exemplo, se o bebê está com a fralda suja ou tem fome...

Acontece que tem choros e choros...e é sobre isso que vamos conversar nesses dois vídeos sobre o choro. Ainda podemos falar tanto mais...deixemos isso para nossas discussões em grupo, para ficar bem recheado de exemplos e maneiras diferentes de se lidar com o choro. Afinal, a gente conhece muita coisa de bebê e de choro, mas como cada ser é único, cada um tem suas motivações para chorar e calar, sorrir e se expressar como conseguir. Por isso precisamos estar muito conectados, desacelerados e atentos, para olhar no fundinho do olho do nosso bebê e conseguir entender o que se passa com ele, porque é só assim que o chorinho dele vai acalmar!

Espero ter ajudado!
Um beijo, Ju

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Dicas para a troca de fraldas sem assaduras!


Dicas!!
Esta semana trouxe as dicas para evitar assaduras...nessa época ainda estava sem experiência de vídeo, mas as dicas continuam MUITO válidas!

Pode parecer estranho andar com uma garrafinha de água na mochila do bebê, mas sinceramente, isso nunca me incomodou. Meu kit de troca de fraldas na rua sempre foi uma garrafinha com algodão e uma fralda de tecido para secar depois. É só acostumar-se e, pela minha experiência, recomendo que a gente já comece a se acostumar desde o primeiro dia com o trio de troca de fraldas. Nunca tivemos problema de assaduras! A gente se acostuma!

O mais importante é sempre secar o bebê depois de passar o lencinho umedecido ou o algodão com água. O que acontece com o lencinho umedecido? Ele tem perfume, então esse perfume geralmente dá alergia ou irritação na pele do bebê...experimentem se limpar com lencinho umedecido...é horrível! O algodão com água jamais vai irritar, ainda mais se secarmos bem depois da troca!

Fica a dia então!

Um beijo, Ju


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Como ajudar o desenvolvimento do bebê



O bebê chegou! E agora? A princípio, ou a olhos rasos, ele mama, dorme e faz cocô...Mas o mundo inteiro está se apresentando a ele desde o primeiro respirar fora da barriga! Uma recém-mãe, cheia de hormônios da lactação no corpo, sensível, com dúvidas até o último fio de cabelo, se sentindo só (por mais que tenham pessoas em volta) ou no mínimo sem saber o que fazer quando o bebê chora demais, precisa ter sua tribo de mães e trocar informação com elas!

Foi pensando nisso que investi forte no meu trabalho que, hoje lá se vão 10 anos, aproxima mães, pais, bebês e informação amorosa  e eficiente para que possam sentirem-se seguras e deixar seus filhotes seguros também. Então, quando tive o Lucano, e optei por ficar 2 anos com ele em casa sem trabalhar, decidi fazer esses vídeos que, somados ultrapassam a marca das 200 mil visualizações! Ueba!!! E é pra isso mesmo, espalhar boa informação, que ajude nas maiores dúvidas dos pais, para que a gente crie filhos que se amam, se conhecem, se aceitam e são seguros porque tiveram isso de seus pais quando bebês.

Esse vídeo é um dos mais vistos no youtube sobre desenvolvimento infantil. Ofereço para que todos possam entender um pouquinho o que podemos fazer com nossos pequenos em casa, para ajudá-los a se desenvolverem.

Um beijo, Ju

domingo, 1 de setembro de 2013

O Renascimento do Parto ou Como recuperar uma sociedade doente...

Antes tarde do que nunca...Ontem fomos assistir ao Renascimento do Parto. ( ! )
A cada cena, a moça a meu lado se contorcia na cadeira, meus olhos vertiam lágrimas enquanto meu coração retumbava no peito o nó da garganta. Embora eu seja uma profissional da área da saúde, porque não fui atrás dessas informações ha 4 anos?

Minha história foi contada pelos olhos e vozes de muitas mães e profissionais comprometidos com a felicidade do mundo (que começa quando nascemos). A mesma história: Bolsa rota em casa, o médico orienta irmos ao hospital, então começa  a grande farsa! "Você não teve dilatação, seu bebê vai entrar em sofrimento, precisamos tirá-lo para sua segurança e dele!" Mensagens subliminares da cultura do medo. Temos medo da morte, medo do parto, a sexualidade é tabu (ainda!). E o parto traz a tona tudo isso que a medicina do achismo se aproveita para protagonizar um momento que deveria ser tão natural quanto quando fazemos o bebê (ou o médico precisa estar conosco na cama?). A gente confia no médico, mas não confiamos em nós mesmos!!! Na nossa capacidade de gerar, conseguir, ir em frente, sentir!

O que aconteceu com os altos índices de cesariana no Brasil tem a ver com o medo de sentir. É mais fácil que eu não me envolva, que "a coisa" venha pronta pra que eu não passe trabalho, que meus medos fiquem quietinhos lá dentro, que meus hormônios não se ativem, e que eu tome alguns remedinhos que me deixarão "tranquila". Pois aí é que está o engano! Se não nos informarmos direito, continuaremos a criar uma sociedade que não sente, que não se envolve, onde as relações são descartáveis e a gente só para (quando pára) pra perceber quando estamos doentes ou alguma coisa muito grave acontece pra gente se dar conta que precisamos ter mais presença!

O que escrevo aqui não é uma crítica pessoal, é uma crítica à cultura que engolimos e repetimos como se fosse verdade sem buscarmos evidências. Só que a gente pode parar de repetir "verdades" infundadas sobre o parto e o nosso nascimento como mães e dos nosso filhos, e entender o que está por trás "do cordão enrolado, da bacia estreita, do gorda demais ou magra demais, da bolsa rota, da ausência do trabalho de parto, do não teve dilatação" e mais do que isso, as consequências (graves) de sermos levadas à cesárias desnecessárias.

E então você olha pra mim e diz:
"Mas correu tudo bem! Meu filho está saudável, viu?"
(eu sei, pensei muito isso pra justificar porque não tive um parto normal). Mais uma desculpa da medicina que tem hora marcada, que não pode esperar a hora certa de nascer e que ganha muito pouco com partos normais. Sabe por que eu não tive trabalho de parto e o Lucano estava alto? Porque não nos deram o tempo fisiológico para que liberássemos nossos hormônios e seguíssemos o tempo da vida. Suprimiram minha cadência natural quando me deitaram naquela cama antes de tudo começar, impedindo a liberação dos hormônios que só o seriam com amor e aconchego. Ninguém gritou comigo no hospital, meu marido estava ao meu lado e a sala estava com luz suprimida, palco montado do falso uso do termo "parto humanizado". Então quando falam em "Violência Obstétrica", você diz: "Não!! Me trataram bem! Meu filho nasceu saudável!", e fica escondido que os "procedimentos padrão" são desnecessários e que por si só já são uma violência, pois inibem a produção de hormônios que ajudarão na saúde física e emocional de mães e filhos antes, durante e depois do nascimento e te tratam como mais um, sem considerar sua história, seu emocional, seu momento!

Então, eu olho pra você e digo: Vá ver esse filme!! Uma sociedade que repete o que todo mundo diz, sem beber da evidência científica, é dominada por interesses comerciais. Todo mundo deveria saber o que o filme retrata!!

Agradeço profundamente aos diretores do filme, Erica de Paula e Eduardo Chauvet. A todos que apoiaram a realização desse filme e aos profissionais sérios e comprometidos conosco que participaram dele: Michel Odent - médico fisiologista, Ricardo Jones - obstetra e homeopata, Melania Amorim - obstetra e pesquisadora, Esther Villela - Coord. da Área Téc. da Saúde da Mulher, no Ministério da Saúde, Daphne Rattner - médica epidemiologista, Laura Uplinger - psicóloga, Heloissa Lessa - enfermeira obstetra, Ana Cristina Duarte - obstetriz, Naoli Vinaver - parteira mexicana, Robbie Davis-Floyd - antropóloga, autora de Birth as an American Rite of Passage, entre outros.

Depois do filme, meu marido olha pra mim e diz: "Nosso próximo filho vai nascer em casa!"
Aí meu coração bate tranquilo, ele também acredita que somos capazes de gerar saúde e cuidarmos de nossa vida sem sermos medicalizados por medo!



* Só uma observação: meu filho nasceu num dos "melhores" hospitais de Porto Alegre, Moinhos de Vento, que brada a quatro ventos que agora tem ambiente humanizado, mas segue fazendo cesárias pra dar e vender. Quando cheguei ao hospital, sem trabalho de parto, fizeram lavagem intestinal e rasparam meus pêlos bem ali onde, horas depois, cortaram minha barriga pra tirar meu filho, que tinha batimentos cardíacos completamente normais até a cirurgia! (Como eu liberaria todos os hormônios necessários a um TP após uma lavagem intestinal??? Montaram o cenário perfeito pra um cesária às 07h da manhã, pra que a médica pudesse manter sua agenda normal 30 minutos depois do procedimento). A mesma médica que passou minha gestação dizendo: preocupe-se com o parto na hora do parto! Fuéfuéfuéfué.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Ministério da saúde adverte (o que doulas já falam há muito)

Se o Ministério da Saúde recomenda (e adverte), se há práticas que há mais de 10 anos são obsoletas (e segundo o ministério, foram banidas!), por que hospitais considerados "os melhores" das cidades, como o moinhos de vento em POA, continuam usando de práticas invasivas que todo mundo tá dizendo que não se fazem mais? As doulas já estão falando isso há muito, precisam gritar, lutar, por uma coisa que é natural e cientificamente comprovada.

Quero levar informação às pessoas, para que a gente pare de aceitar coisas protocoladas que não fazem mais sentido e se configuram como violência! Vejam o que diz o ministério da saúde (pra quem ainda não escutou o barulho das doulas e precisa de mais credenciais):

"Os procedimentos modificaram até cerca de 10-15 anos atrás, ela (a gestante) ficava em jejum, por exemplo, ela tinha uma depilação feita na região que potencialmente pudesse estar envolvida no momento do parto, era feita uma lavagem intestinal e hoje isto já está completamente proscrito (isto significa: banido!).  

Para diferenciar más de boas práticas é importante você e sua família saberem que é considerado uma MÁ prática a episiotomia, aquele corte no genital da mulher, sem uma indicação correta. A minoria das mulheres tem necessidade dessa indicação. Já uma BOA prática é a mulher ter o apoio contínuo da equipe, do acompanhante e da doula. 

No SUS a mulher é incentivada a fazer o parto na vertical, nessa posição a força da gravidade facilita o nascimento do bebê, a circulação sanguínea da placenta aumenta e as articulações se expandem mais, melhorando as contrações. Depois do parto o estímulo é para manter o contato direto da mãe com o bebê."

Hospital Moinhos de Vento, retrate-se por continuar fazendo as más ações em seu protocolo.

Pra quem está curtindo a gravidez em sua plenitude, atenção,  essas práticas causam sintomas físicos e psíquicos a longo prazo. Ou por que vocês acham que a maioria das mulheres que passam por isso ficam nervosas com as manifestações do bebê, não se sentem capazes de acolhê-lo e tremem quando vão amamentar, dar banho, fazer dormir, etc, etc. E mais, já pararam para pensar por que a maioria dos bebês não é tranquilo? (essa é uma longa conversa, que teremos mais pra frente)

O que estão ensinando nas faculdades de medicina? Por que os médicos mais antigos não se reciclam? Ah! É mais fácil ficar como está, aliás praticar isso gera medicalização, afasta as pessoas de suas conexões, causando dependência dos pacientes no que esses "profissionais" dizem...Além disso, também é mais fácil enrolar a gestante (como fizeram comigo) até a hora que o médico pode atender e se livrar logo de você, fazendo uma cesária...Ou mais fácil ainda, fazer tudo antes do carnaval, ou do feriado, ou do que mais o médico precisar...Mas não pensem que eles todos fazem isso "honestamente", a maioria diz a você: não pense no parto agora (na gestação...mas então quando?), você precisa passar pelo protocolo do hospital: deite-se, precisamos fazer lavagem, raspagem, esperemos o médico...eles acabam com a possibilidade biofisiológica de você ter um parto que facilite a liberação de hormônios benéficos para você e seu bebê, as contrações importantes que trazem junto a capacidade de sentir-se plena, e do bebê ser massageado por toda nossa musculatura, liberando hormônios e possibilitando que sinta-se seguro ao nascer, fortalecendo seu sistema imunológico...

"Ah, mas o que a gente pode fazer?"
Informadas, podemos dizer que não aceitamos que façam isso conosco!
"Ah, mas faltando uma semana pro nenê nascer?"
Sim, essa é a hora: a tempo de termos um atendimento verdadeiramente humano e respeitoso conosco e com nosso bebê, que vai evitar que passemos por maus bocados mais à frente! Informação e Atenção!

Não vamos deixar que as pessoas nos subestimem mais, nos desrespeitem, esse é nosso papel. Depois de termos informação, cada uma de nós, somos responsáveis por estarmos inseguras com nossos filhos, por impedirmos nossos corpos de funcionar como a biologia pede, pela intranquilidade de nossos pequenos, porque continuamos indo no médico que nos enrola, que faz (?) a maioria dos partos dele (?), que diz que devemos cuidar do enxoval, que de nós eles cuidam (???), de quem é mesmo a responsabilidade? Vamos em frente, sejamos ativas, atentas, cuidemos de nós, não vamos mais deixar a responsabilidade na mão de outros por nos cuidar, para depois nos sentirmos culpadas (??).




sábado, 26 de janeiro de 2013

Vida e a morte - o fim e o começo!

Uma semana após a morte da Bisa, meu pai internou no hospital. Inicialmente ele não queria que o Lucano fosse visitá-lo, achava o ambiente hospitalar muito pesado pra ele...porém, uma semana depois, o Lucano não aguentava mais de saudade, perguntando sempre onde estava o vovô, então, peguei-o na escola e fui ao hospital com ele. Lembro da cara do meu pai quando viu o Lucano entrando no quarto, um misto de alegria e preocupação do netinho vê-lo na cama.

O Lucano entrou com sua alegria, encheu o quarto, subia no pé da cama e chamava: "Vô!!!!!!!" e o vô Julio ria da sapequice dele. Então, passamos a ir todos os dias com o Luc visitar o vovô, às vezes deixava de ir com ele um ou dois dias, mas ele queria ver o vovô. Ele abria um livro e deitava na cama com o vô, fazia que estava dormindo com ele, abraçadinho na cama, desenhava pro vovô. Colocamos os desenhos do Lucano na parede em frente a cama do meu pai, que cada dia conseguia levantar menos.

Comecei a ler muito sobre câncer e sobre esse processo de tratamento, da importância de envolvermos a pessoa que está em tratamento em uma esfera de muito amor, familiar, de conversar com ela sobre o que está passando, de ouvi-la, de fazer com ela coisas que a façam sentir bem...Levei as coisinhas que meu pai tinha no criado mudo de casa, pro lado da cama dele, porta retrato do Lucano, os livros que meu pai estava lendo, e passei a incentivá-lo e fazer com ele as meditações que ele tinha costume de fazer. Como ele quase não deu uma palavra durante a internação, voltando-se para dentro de si, nesses momentos de meditação estivemos intimamente ligados e partilhando do mesmo ambiente de cura espiritual por que ele vinha passando. Sim, o corpo estava perdendo sua vitalidade, mas eu via claramente que meu pai engrandecia em energia de alma na mesma proporção que o corpo perdia força.

Os médicos avisaram que meu pai teria alguns dias, passamos a levar o Lucano por pequenos tempos, mas todos os dias! Meu pai estava mais distante, mas voltava de seu refúgio quando o Lucano ia. Em nenhum momento o Lucano pareceu impressionado com acessos e medicações. A gente vinha explicando a ele que o vovô estava ali tomando remédios porque estava dodói. Então, em nossas visitas, o que eu observava nele era a alegria em estar com o vovô, e o sorriso do meu pai vendo o Lu. Isso era o que mais importava!

Dia 21/11 meu pai foi entubado e fomos visitá-lo à noite. Estava toda a família lá, o Lucano entrou pela porta e não quis olhar meu pai, que estava consciente mas distante. Ele se agarrou na minha mãe e ficou de olhos fechados o tempo todo. Quando fui embora, deitei no peito do meu pai, dei um beijo e disse: "Te amo!"  e ele respondeu: "Também!". "Amanhã a gente se vê!". Na manhã seguinte minha mãe ligou cedinho...

Era dia de aula, o Lucano seguiu para a escola enquanto eu e meu irmão acompanhávamos minha mãe no desenrolar das coisas. No final do dia, fomos todos para casa da minha mãe, a irmã do meu pai e minha prima vieram de São Paulo e jantamos juntos. Na sala de jantar o Lucano viu todos sentados, pediu colo pra minha mãe, olhou para todos os lados procurando e disse pra vovó: "Cadê o vovô?". Minha mãe me perguntou o que dizer, eu disse que ela falasse o que acredita, e foi então que ele passou a olhar para as estrelas todos os dias procurando o vovô.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vida e a morte: uma criança e os processos do morrer

Não se preocupem, não fiquei mórbida, falo da morte agora pra falar da vida, na sua plenitude!

...e a gente explicava pro Lucano: "O vovô tá dodói, brinca com ele no sofá" e lá ia ele, saltitante, se aconchegar no colo do vovô. Em poucos minutos ele já saía do sofá e chamava o vovô para fora...Mas o vovô doía...

Lucano, seu vovô sempre leu muito, muito mesmo, livros de histórias, de lugares, de culinária, lia livros ao mesmo tempo, vários, e a cada semana comprava mais um. Sempre interessado em aprender, em saber mais. Meu pai sempre foi um cara distinto, educadíssimo, refinado, culto. Ele sabia sobre tudo! E o que ele não sabia, ouvia atento dos outros! Eu via nele olhos curiosos, um sonhador! Eu sabia que ele tinha uma alma louca para viver viajando por aí...por isso ele lia tanto, por tantos lugares ele passou, navegando em letras de todas as culturas! Seu padrão inconsciente, que precisava provar pro próprio pai (que ele mesmo criou) que era alguém responsável, sempre calou mais forte!

Por se cobrar ser sempre melhor, sentia-se sempre culpado. Ele corria muito, não se permitia relaxar, íamos ao shopping, mas quase saíamos correndo pra voltar: ele precisava voltar pra onde sentia-se seguro, trabalhando! Quando o Lucano nasceu, ele passou a se permitir sair mais cedo do trabalho, ficava um pouco conosco e logo voltava. Tinha uma inquietação, uma pressa, uma cobrança interna. Mas aprendi com ele, nesses tropeços, que não temos garantia de nada, controle de nada (nem das próprias células), que a vida é toda impermanente e a única forma de manter a tranquilidade é reforçando nosso interior!

Dos livros que lemos juntos nesse mês, caimos no capítulo sobre o câncer...ele "não entendeu", achou denso, pediu que eu lesse e conversamos depois sobre...Como eu gostava de conversar com ele sobre as coisas, qualquer coisa, a gente conversava e era muito bom!! O câncer é a manifestação física do "destruir-se por dentro" ou "consumir-se", de repente as células, por algum motivo (que une estresse, genética, efeitos biológicos de hábitos alimentares, emocionais e  físicos) não reconhecem as demais células como sendo suas irmãs e começam a atacá-las, multiplicando-se desenfreadamente e prejudicando o bom funcionamento do organismo que habitam...É claro que é difícil admitir que criamos isso, que todos nossos sistemas de crenças e escolhas nos levaram a isso!

Meu pai passou a ficar muito tempo no sofá, sentado sobre sua vida toda, não trabalhava mais...Lucano sentava ao lado dele e dizia: "O vovô tá só um pouquinho dodói?" É filho, foi só um pouquinho de tempo que ele ficou só um pouquinho dodói...Logo ele passou a ficar muito dodói, ficava muito tempo na cama. Lucano saracoteando pela sala, puxando de mim uma vida que eu via enfraquecer do meu lado! Nasci no mesmo dia e  mês que meu pai, enquanto ele passava pelo processo de destruição e reconstrução interna, eu via meu parceiro de vida se aprofundando em si, na vida, na morte. E meu parceirinho Lucano, mostrava que a vida pulsa, que o riso vem da simplicidade, que eu precisava parar e estar com ele, ao mesmo tempo em que meu pai parou pra ficar consigo!

Começamos as sessões de radioterapia (sim, começamos, pois o câncer é da família inteira!). Cada vez mais dores. Um mês depois dessa descoberta, minha avó materna morre! Lucano não a via nos últimos tempos, ela estava há dois meses internada e ele não podia entrar no hospital...Então, quando eu chorei a morte da Bisa, ele disse:

"Não chora, mamãe!"
E como se soubesse, engatou: "Cadê a Bisa?".

Lucano, a bisa morreu...
Vi em seus olhos um ponto de interrogação.



... assim como o dia acaba e vem a noite e depois acaba e vem o dia, como a plantinha morre, ela morreu... Fico tentando imaginar como soou isso pra ele, mas não acredito que a gente vai pro céu, e precisava ser honesta com ele dentro da minha concepção de morte, contar que os seres morrem, que a gente chora de saudade, e que a vida segue...Ele tem lidado bem com isso (da Bisa).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Entre a Vida e a Morte...

Desde a última postagem, um mundo de coisas aconteceu por dentro e por fora de nós...

Logo depois do evento da Laura Gutman, no dia 15 de setembro, meu pai descobriu um tumor (no pulmão, que fez metástase nos ossos e depois seguiu...).











Não, não tem nada de errado com a edição deste texto...um espaço em branco acontece dentro da gente depois dessa notícia...os sentimentos se embaralham todos: contato com a morte, com as forças e fraquezas humanas nossas e dos outros, com nossa fé (ou falta dela)...vamos tentando juntar os cacos das coisas todas: o que fizemos, o que não fizemos, o que ainda queremos fazer, as verdades e as mentiras da vida, nossas escolhas todas. Dá muita vontade de chorar, e também muita vontade de viver, de tocar em frente e de "fazer tudo direitinho pra ter um resultado legal".

Primeiro vem a negação. Meu pai ouviu o diagnóstico e assentiu com a cabeça....Nós quatro lá, juntos, ouvindo a sentença: "Aqueles pontinhos no pulmão são um tumor, vamos investigar sua natureza para decidir sobre o tratamento...Também vamos ver essas dores nos ossos, para ver se há relação...Uma psicóloga da instituição pode ajudá-los..." 








Silêncio! A gente olha pro pai, sentado na poltrona do hospital, com suas dores dilacerantes, querendo desvendar o que se passa através do seu olhar... e meu pai solta, no final da conversa: "Tratamento? Mas é um câncer?". Meu pai é o grande provedor da família toda, trabalhou a vida inteira para ver-nos com tudo que precisávamos (ou o que ele achava que precisávamos), garantidos de saúde, educação e valores. E para além disso tudo, é uma presença silenciosa e tímida, mas forte, corajosa, cheia de decisão, que mantinha o leme (moral, emocional, financeiro, estrutural) da nossa família e que sempre esteve disposto a aprender com os percalços da vida, conosco e nossas adolescências, a ultrapassar seus limites e ir em frente!

Mas porque estou escrevendo tudo isso, num blog sobre maternidade? Porque no meio disso tudo, tem o Lucano: serelepe, cheio de vida, agarrado no meu pai, perguntando sobre as coisas e vivendo-as conosco, na mesma intensidade do alto de seus dois anos de vivacidade!

Foram 5 dias de internação, um batalhão de exames e remédios para conter uma dor que só aumentava! Meu pai ansioso para sair do hospital, querendo se agarrar na vida, usando da sua racionalidade para mudar tudo o que precisava ser mudado desde o começo de tudo...Comprou uma pilha de livros e ganhou um outro (que segue hoje na minha cabeceira): "Câncer tem Cura" do Frei Romano Zago. Diligentemente, como sempre foi, passou a tomar o elixir de babosa, ligou pro Frei e, conversando com ele, reavivou sua fé. Foi na nutricionista e mudou radicalmente sua alimentação no mesmo dia, passou a comprar alimentos orgânicos e já não tinha mais vontade de cozinhar...

...Justo ele, nosso CHEF internacional, que nos proporcionou os mais saborosos almoços e jantas de toda nossa vida, que avisava sobre a proximidade da refeição com seus aromas inigualáveis pela casa, enquanto preparava-os. Que se alegrava intensamente de ouvir-nos dizer: "Que delícia!!!!!!!" E que até esperava por essa recompensa, depois das primeiras garfadas! Essa era uma de suas mais simples e verdadeiras felicidades: alimentar nossa alma, nossos sentidos, e ver nos olhos de quem provava seus banquetes, a delícia de viver seu paladar!

Se antes meditava todo final de tarde e participava de estudos espíritas, passou a meditar a maior parte do tempo: quando não era meditação formal, eu via nele uma postura (interna) meditativa...O que será que se passava no seu interior? Silêncio. Era o tempo dele, de se recompor, de se reencontrar, de decidir por ele, sem pensar nos outros...

...E o Lucano querendo que ele viesse na carona de seu carro! Mas o vovô não podia mais sentar no carrinho do Lucano, sentia dores terríveis nos quadris! Então ele sentava no sofá quando o Lucano queria o colo do vovô...Assim, o peso leve do Lucano não doía mais no osso e no coração! Significativo: A expressão "dói no osso" encaixa perfeitamente nesse quebra cabeça. O câncer dói. Dói no osso, literalmente e figurativamente. Ele dói na vida!

Seguirei contando a conta gotas, porque Lucano precisa de mim agora, e porque seguimos- eu, ele, e toda a família- elaborando juntos, no pulsar da vida do Lucano (e da nossa)!