segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nascendo e Renascendo

A literatura tem muitos bons livros que explicam os tipos de parto e as fases do parto. Pessoas diferentes passam por momentos distintos na hora do parto. Recomendo fortemente este livro, lindo, cheio de histórias, de amor e respeito:

Tenho uma amiga que fez o parto em casa, com uma equipe de médico, doula e enfermeira. Eu passei a gestação dizendo que queria que o parto fosse da melhor forma pro Lucano e pra mim...

(hoje percebo o quanto a médica me sugestionou dizendo que "a hora a gente nunca sabe..." aquele papo de médico que quer dormir a noite toda e "fazer" o SEU parto na hora que lhe convém. E mais importante, como profissional da saúde e da educação, prometi a mim mesma que trabalharei com todas minhas forças e meu amor para que todas as mães possam VERDADEIRAMENTE se preparar durante a gestação inteira para um parto normal/ natural-que é o que mais favorece às mães e desenvolvimento das crianças ).

O que aconteceu comigo é que às 23h do dia 24/05 a bolsa estourou com tudo, eu estava dormindo!! Acordei com aquele aguaceiro saindo, senti que era hora em um misto de risadas e choro (Aquele momento por que tanto esperei tinha chegado!!!!). Como não senti nada de contrações, a médica me mandou ir ao hospital...

(ATENÇÃO! Nessa hora entramos no que chamamos de "partolândia" isso quer dizer que nossa capacidade de pensar equilibradamente, se escapa, estamos hormonalmente, fisicamente e emocionalmente num mundo à parte, envolvidas no nosso momento, e precisamos entrar com calma e amor nisso tudo, para manter a produção da ocitocina, que favorece toda a evolução do trabalho de parto....Por isso o acompanhamento da DOULA é fundamental, ela nos guia, nos ajuda a sentir bem, acalma, nos leva por um caminho do trabalho de parto de forma harmônica)

... esperei pela evolução do trabalho de parto...

(que não aconteceu, claro, há evidências científicas de que uma mulher deitada não terá o TP evoluído, no ambiente hospitalar, com médicos de plantão que eu não conhecia, um monte de interferência e nenhuma explicação, meu nível de adrenalina subiu e baixou a ocitocina, evidentemente, o TP não evoluiu!!! Mas já entendi que é "norma padrão" dos hospitais fazerem isso, pois a cesária que se segue, é mais rentável e o médico pode vir quando quiser para a cesária...)

...até às 07h do dia 25. Ou seja, o parto foi tranquilo e sem dor, Lucano nasceu de cesária desne-cesária às 07h58. Tirando o fato de ter sido uma cesária desnecessária, que reverberou por MUITO tempo depois, diga-se de passagem, e mudou minha vida. Vejam que belo trabalho sobre as cesárias desnecessárias, que minha amiga Lígia Moreiras Senna encabeçou:

...
(E não é exagero não, o trabalho de parto é um dos momentos mais conectados (ou não) que podemos ter conosco, com nosso filho, com nossos prazeres, fazendo daí desabrochar a mãe que nasce e que precisa vir empoderada do sentido de mãe, da intuição e do vínculo com seu bebê, para ter segurança interna de que sabe interpretar seu filho e de que está fazendo seu papel de mãe com plenitude-e não ouvindo a meio milhão de opiniões, ficando confusas e chorando inseguras porque o que as pessoas dizem, lá no fundo não corresponde ao que sentimos. Te levar a uma cesária desnecessária, por mais que seja "no melhor hospital da cidade", com o "melhor médico" e mesmo que seu maridinho esteja a teu lado, impede que você sinta a enchurrada de hormônios que te darão o pleno nascimento como mãe, segura de saber fazer nascer e prover seu filho. Isso é violência sim, depois que o bebê nasce e nos sentimos fragilizadas diante dele, com depressão pós parto e  inseguras, é que poderão constatar quão violento é. O parto não é um "evento" em que precisaríamos de lá precisando tomar remédios ou de acompanhamento psiquiátrico! Atenção, meninas!)


...Enfim, tratei de fazer do nosso momento o melhor, afinal, meu pequeno estava chegando e precisava que estivéssemos felizes, bem e o recebêssemos com todo acolhimento que ele merece. Foi maravilhoso ver seus olhinhos pela primeira vez,  nos preparamos para, aconteça o que fosse, estaríamos bem e juntos! Eu e Alberto de mãos dadas, fazendo mantras e, na prece que acho mais linda, ouvi seu chorinho! Ele veio pra mim, com o cordão intacto, e parou de chorar, momento único, uma bolha ao nosso redor criando a eternidade!

Dentro das possibilidades em que nos vimos (atados e tendo de passar pelo "protocolo" da instituição), combinei com o Alberto que ele não deixaria o Lucano sozinho um só segundo, que tocaria nele o tempo todo, com seu afeto, com seu amor, que falaria baixinho em seu ouvido para que ele estivesse tranquilo com o papai, que dessa banho nele...

 (o que a enfermeira impediu, sob o protocolo do medo do pai de primeira viagem. Enfim, vocês fazem curso de gestante para aprender a dar banho e na hora do primeiro banho, sentem medo? O-ou, algo errado, ensinaram vocês a dar banho em uma boneca, claro, sem emoção nenhuma...mas não ensinam nos cursos de gestantes, a empoderar esses pais e mães que estarão com seus filhos nas mãos, com tudo certo para serem pais e mães, porque foram empoderados disso e não da cultura do medo de que não somos o suficientes para nossos filhos, então quem sera?)

Muitas vezes durante a gestação, pensei que estava rompendo a bolsa, e me perguntava como seria esse momento, se parecia "xixi" ou se romperia de pouquinho ou de uma vez. Tratei de relaxar quanto a essas ansiedades e deixei acontecer como tinha de ser melhor! Sobre o rompimento da bolsa, só sei que a mulher sabe e tem certeza quando é ela, basta estar conectada e prestando atenção ao próprio corpo!

Assim que vemos pela primeira vez nosso filhote, nasce uma mãe e nasce um pai. O olhar e o dia a dia vão construindo um pai e uma mãe, cheios da história da educação que tiveram, misturado com a evolução que viveram. Desde o teste de gravidez até o parto, há um caminho que pode ser cheio de amor, acalentado de carinho, alegria e acolhimento mútuo. A mãe e o pai que somos é uma construção de cumplicidade que reflete na resposta do pequeno que cresce. Oportunidade única de olharmos para nosso parceiro em suas melhores qualidades, reconhecendo que ele está buscando a felicidade da melhor forma que pode e, mais, que podemos ajudá-lo nesse caminho. Esse posicionamento cria uma rede de cooperação, onde conseguiremos gerar felicidade um ao outro e a todos! Um exercício maravilhoso!!

Este texto foi todo construído (entre parênteses) e sabe porquê? Por que é nas entrelinhas (que às vezes não captamos) que os hospitais atuam conosco. Por que o índice tão alto de cesárias no Brasil, alarma toda a comunidade científica séria, que trata de cuidar das pessoas para que esse cuidado não vire mais uma coisa a se medicalizar. Por que ter filhos hoje, para muitas mulheres, está atrelado a tomar um monte de remédios antes, durante e depois e que mesmo assim, um número assustador de mulheres sofre de impotência em relação a seus filhos e depressão pós parto.

Agora reflitam comigo: por que um hospital tem um protocolo que nos deixa apartadas de nosso parto, do nascimento de nossos filhos, que não nos empodera para sentirmos segurança de sermos mães, que coloca a ação do médico como a empoderada do pedaço, para que ele venha a medicalizar a retirada precoce dos nossos bebês de nossas barrigas? Para que possam utilizar a UTI por causa de precocidade provocada, de medicalização evitável, ver a gente tremendo de medo diante de tudo isso e nos indicar um psiquiatra, com a desculpa de que não estamos preparadas?

Não, não sou contra médicos, nem contra segurança, que fique bem claro! Fui formada em Pediatria pela Faculdade de Medicina e conheço médicos e médicos, diga-se de passagem que a maioria diz que vai dar alta pros pacientes antes do carnaval... é vero (por que será, né?). Tenho observado em minhas pesquisas e experiências como educadora, que vivemos sob a cultura do medo e nem sabemos porque escolhemos determinada coisa que não nos faz bem. Dentre as coisas que a cultura do medo abarca, está a gestação, o parto, o pós parto. Querem a segurança de resultados científicos sobre essas questões? Procurem junto a profissionais que realmente se importam com sua saúde (e não em te colocar secundariamente em um lugar medicalizado), que querem te empoderar como ser humano, promovendo seu desenvolvimento, para que você seja ativo e responsável em relação a seus processos de vida e que, por causa disso, seja seguro e feliz! Amo os médicos, dêem uma olhada no tipo de médico que favorece o desenvolvimento do ser humano:

Aqui tem A médica obstetra que eu amo, que faz muita pesquisa científica, professora da faculdade de medicina da UFCG e do IMIP de Recife, Melania Amorim. (Entrevista para a revista da Unisinos e Site da Melania.). Tem mais, uma cientista, bióloga, mestre em psicobiologia e doutora em farmacologia (quer mais? tem!) pós doutora em saúde coletiva: Lígia Moreiras Sena. Dois outros médicos competentíssimos: Ricardo Jones, gineco obstetra, e Carlos Eduardo Correia, o Cacá, pediatra. E pra não falar somente em Brasileiros, a base de tudo: Michel Odent, obstetra francês de 81 anos, em entrevista e em livros. E Frèderick Leboyer, obstetra aclamado no mundo todo e que eu sigo, a formiguinha, nas minhas aulas de Shantala: em livros e no The Guardian.