terça-feira, 14 de agosto de 2012

Maternidade Consciente!

A mulher que vem nascendo em mim desde o nascimento do meu filho, grita por poder ajudar a outras mães a desenvolverem esse olhar consciente em relação à maternidade. Desde então, leio vorazmente autores como Laura Gutman, Michel Odent, Dr. Carlos González, Janet Balaskas, entre outros tantos. Estou trazendo, em parceria com a Ligia Sena e o Bazar Coisas de Mãe, a Laura Gutman para um seminário que, tenho certeza, será maravilhoso!

Colocar LUZ nas sombras!
A intensidade na busca por fundamentos acerca da Maternidade Consciente, é diretamente proporcional ao que passei durante um ano depois do nascimento de meu filho, em que fui tomando consciência com as informações que pareciam ter sido escritas através de mim e para mim (e muitas outras mulheres):

"Cada vez que uma mulher tem a coragem de relatar os maus tratos que recebeu durante o trabalho de parto, adquirindo consciência do vivido, se produz uma avalanche de identificações em suas recordações. E aí, com espanto, cada uma constata o que não se atreveu a dizer, o que não conseguiu pedir, o que não exigiu, o que não soube"  Laura Gutman, cap.2 sobre O Parto, em A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra.

Fotos de Gettyimages
 Esse trecho traduz com exatidão, o que se passou ao longo do primeiro ano em que fui despertando para o que realmente significava o termo "maus tratos", que parecia grande demais: "Fui atendida em um dos melhores hospitais, estive tranquila, meu filho nasceu bem..." MAS...

"Eu não dilato...costuma ser a explicação que as mulheres dão para justificar a cesariana. No entanto, todas as mulheres dilatam. Simplesmente não se esperou o tempo suficiente." Diga-se de passagem que essa é UMA das desculpas dos médicos às gestantes sonhadoras, que somos, esperando nosso doce bebê...Mau trato em obstetrícia significa não dar a informação correta, decidir pela mãe, obrigá-la (mesmo que veladamente) a ficar deitada durante o trabalho de parto, o que já é provado que intensifica as dores e retarda o trabalho de parto, optar por uma cesária "porque há mecônio ou circular de cordão", o que também já se provou não ser condição sine qua non para tal procedimento...

E "o espanto" a que Laura se refere no trecho anterior me pegou de jeito, uma vez que eu tinha todas as informações, trabalhava com saúde materno infantil e, efetivamente, conseguia instruir e ajudar a muitas mães...então porque não percebi os maus tratos??? Por que não questionei, por que não exigi meus direitos???

Enfim, após ganhar meu lindo menino, passei pelo tempo de reconhecimento, encantamento, organização da nova vida, amor incondicional transbordante e, depois disso ou junto a isso, aquele estranhamento que já comentamos em nossos grupos: "O que há comigo??". Segundo Laura Gutman, é a sombra, para a qual não "me prepararam".

"A maioria das mães se queixa 'porque ninguém lhes contou como era realmente a criação de um bebê' (e aqui eu acrescento o trabalho de parto, o parto, e mais que isso, a assistência que merecemos!) e elas tiveram de aprender literalmente se expondo. É verdade que a experiência é individual, mas, nestes tempos em que abundam as idéias de preparação para o parto, chama minha atenção o fato de que as mulheres continuam chegando muito desvalidas ao momento de assumir a maternidade, sempre no terreno do emocional."

Trabalho de parto com respeito, com amor, com tranquilidade

Esse é meu trabalho e assim será, amorosamente e incansavelmente, a favor das aptidões das mulheres para a maternidade. "Guiando e cuidando delas nesse processo de casulo frágil que se transforma em flor. Uma flor bela e altiva que conhece as leis da natureza e, acima de tudo, as emoções femininas. A criança que está para nascer nos dá a possibilidade de ingressar no mundo adulto (das emoções), mas a decisão de fazê-lo é pessoal. Neste sentido, ser cúmplice da ingenuidade em que a mulher grávida navega é uma decisão profissional."

(Aqui um parênteses: eu e meu marido chegamos a essa conclusão antes de ler as sábias palavras de Laura: não percebemos os maus tratos no meu trabalho de parto, não exigimos e não perguntamos, porque fomos ingênuos, como Laura refere contundentemente, quando diz que "As mulheres se dão ao luxo de ficar tentadas com uma ingenuidade absoluta durante a gravidez. Há uma tendência social de apresentar as grávidas embelezadas com o ventre à mostra, observando, reclusas, o mundo a partir do próprio umbigo, infantilizadas e cercadas de pensamentos supérfluos, folheando revistas românticas e de conselhos úteis.")

Algumas pessoas que ainda não passaram pelo período de puerpério, dirão: "Nossa! Que pesado!" É, é muito pesado olhar para trás e ver que ao invés de sustentar meu emocional, com práticas, discussões em grupo e informações acerca de nossas sombras que fazem questão de aparecer intrinsecamente ligadas ao nascimento de nossos lindos bebês, lembro de sorver, de forma pueril, blogs e sites, revistas e livros que falavam do quarto do bebê, do enxoval, das mudanças biológicas que ocorriam na minha barriga e corpo inteiro, e que flutuei docemente com meu ego-barriga ao ter minha linda barriga de grávida elogiada e acariciada. 

Não há problema nisso, precisamos mesmo ser paparicadas e curtir a parte doce da vida de gestante, com toda glória, o problema está em esquecer do resto, ou achar que não é importante...Porque a partir do parto nossa sombra bate à porta e precisamos saber como lidar com ela, para viver os primeiros anos com nossos bebês em harmonia, sem que eles venham a manifestá-la através de choros incontroláveis, noites arrebatadoramente sem dormir e mal estares repetitivos que podem ser evitados, quando decidirmos "tomar um chá com nossa sombra" e aprendermos a lidar bem com ela, crescendo como mulher e ser humano.


Todos os trechos entre "aspas" em itálico, foram pinçados do livro "A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra" de Laura Gutman que, na minha opinião, é suporte fundamental no processo de tornar-se mãe, adulta e segura, entrando em contato com as nuances femininas com respeito e sabedoria para criar filhos livres de nossas sombras.