domingo, 1 de setembro de 2013

O Renascimento do Parto ou Como recuperar uma sociedade doente...

Antes tarde do que nunca...Ontem fomos assistir ao Renascimento do Parto. ( ! )
A cada cena, a moça a meu lado se contorcia na cadeira, meus olhos vertiam lágrimas enquanto meu coração retumbava no peito o nó da garganta. Embora eu seja uma profissional da área da saúde, porque não fui atrás dessas informações ha 4 anos?

Minha história foi contada pelos olhos e vozes de muitas mães e profissionais comprometidos com a felicidade do mundo (que começa quando nascemos). A mesma história: Bolsa rota em casa, o médico orienta irmos ao hospital, então começa  a grande farsa! "Você não teve dilatação, seu bebê vai entrar em sofrimento, precisamos tirá-lo para sua segurança e dele!" Mensagens subliminares da cultura do medo. Temos medo da morte, medo do parto, a sexualidade é tabu (ainda!). E o parto traz a tona tudo isso que a medicina do achismo se aproveita para protagonizar um momento que deveria ser tão natural quanto quando fazemos o bebê (ou o médico precisa estar conosco na cama?). A gente confia no médico, mas não confiamos em nós mesmos!!! Na nossa capacidade de gerar, conseguir, ir em frente, sentir!

O que aconteceu com os altos índices de cesariana no Brasil tem a ver com o medo de sentir. É mais fácil que eu não me envolva, que "a coisa" venha pronta pra que eu não passe trabalho, que meus medos fiquem quietinhos lá dentro, que meus hormônios não se ativem, e que eu tome alguns remedinhos que me deixarão "tranquila". Pois aí é que está o engano! Se não nos informarmos direito, continuaremos a criar uma sociedade que não sente, que não se envolve, onde as relações são descartáveis e a gente só para (quando pára) pra perceber quando estamos doentes ou alguma coisa muito grave acontece pra gente se dar conta que precisamos ter mais presença!

O que escrevo aqui não é uma crítica pessoal, é uma crítica à cultura que engolimos e repetimos como se fosse verdade sem buscarmos evidências. Só que a gente pode parar de repetir "verdades" infundadas sobre o parto e o nosso nascimento como mães e dos nosso filhos, e entender o que está por trás "do cordão enrolado, da bacia estreita, do gorda demais ou magra demais, da bolsa rota, da ausência do trabalho de parto, do não teve dilatação" e mais do que isso, as consequências (graves) de sermos levadas à cesárias desnecessárias.

E então você olha pra mim e diz:
"Mas correu tudo bem! Meu filho está saudável, viu?"
(eu sei, pensei muito isso pra justificar porque não tive um parto normal). Mais uma desculpa da medicina que tem hora marcada, que não pode esperar a hora certa de nascer e que ganha muito pouco com partos normais. Sabe por que eu não tive trabalho de parto e o Lucano estava alto? Porque não nos deram o tempo fisiológico para que liberássemos nossos hormônios e seguíssemos o tempo da vida. Suprimiram minha cadência natural quando me deitaram naquela cama antes de tudo começar, impedindo a liberação dos hormônios que só o seriam com amor e aconchego. Ninguém gritou comigo no hospital, meu marido estava ao meu lado e a sala estava com luz suprimida, palco montado do falso uso do termo "parto humanizado". Então quando falam em "Violência Obstétrica", você diz: "Não!! Me trataram bem! Meu filho nasceu saudável!", e fica escondido que os "procedimentos padrão" são desnecessários e que por si só já são uma violência, pois inibem a produção de hormônios que ajudarão na saúde física e emocional de mães e filhos antes, durante e depois do nascimento e te tratam como mais um, sem considerar sua história, seu emocional, seu momento!

Então, eu olho pra você e digo: Vá ver esse filme!! Uma sociedade que repete o que todo mundo diz, sem beber da evidência científica, é dominada por interesses comerciais. Todo mundo deveria saber o que o filme retrata!!

Agradeço profundamente aos diretores do filme, Erica de Paula e Eduardo Chauvet. A todos que apoiaram a realização desse filme e aos profissionais sérios e comprometidos conosco que participaram dele: Michel Odent - médico fisiologista, Ricardo Jones - obstetra e homeopata, Melania Amorim - obstetra e pesquisadora, Esther Villela - Coord. da Área Téc. da Saúde da Mulher, no Ministério da Saúde, Daphne Rattner - médica epidemiologista, Laura Uplinger - psicóloga, Heloissa Lessa - enfermeira obstetra, Ana Cristina Duarte - obstetriz, Naoli Vinaver - parteira mexicana, Robbie Davis-Floyd - antropóloga, autora de Birth as an American Rite of Passage, entre outros.

Depois do filme, meu marido olha pra mim e diz: "Nosso próximo filho vai nascer em casa!"
Aí meu coração bate tranquilo, ele também acredita que somos capazes de gerar saúde e cuidarmos de nossa vida sem sermos medicalizados por medo!



* Só uma observação: meu filho nasceu num dos "melhores" hospitais de Porto Alegre, Moinhos de Vento, que brada a quatro ventos que agora tem ambiente humanizado, mas segue fazendo cesárias pra dar e vender. Quando cheguei ao hospital, sem trabalho de parto, fizeram lavagem intestinal e rasparam meus pêlos bem ali onde, horas depois, cortaram minha barriga pra tirar meu filho, que tinha batimentos cardíacos completamente normais até a cirurgia! (Como eu liberaria todos os hormônios necessários a um TP após uma lavagem intestinal??? Montaram o cenário perfeito pra um cesária às 07h da manhã, pra que a médica pudesse manter sua agenda normal 30 minutos depois do procedimento). A mesma médica que passou minha gestação dizendo: preocupe-se com o parto na hora do parto! Fuéfuéfuéfué.