sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A Massificação do Parto e a luz no fim do túnel

Seguindo as indicações do livro "Amor o dominación: los estragos del patriarcado", de Laura Gutman, destaco esse trecho em que identifiquei cada uma das ações que sofri ao chegar em um "dos melhores hospitais de Porto Alegre", depois de ter minha bolsa rota e estar sem trabalho de parto. Com a "desculpa" de ser o procedimento padrão, ao qual ninguém contesta porque é padrão, fui sendo submetida a todas as coisas que hoje sei, por mais estudo, mais informação e necessidade em me acercar de meu íntimo, minha força, entender meus choros e falta de saber o que fazer. Uma necessidade de me empoderar como mulher e mãe, coisa que poderia ter feito se tivesse aberto meus olhos na gestação sobre o que realmente precisamos (nos) preparar para a chegada de nossos bebês. 

Parafraseando Laura, desde o parto do meu filho se passaram 2 anos e 4 meses. A cicatriz da cesária ainda deixa minha barriga anestesiada ao toque. Meu filho é um menino extraordinário. Também sei que nesse dia tomei a decisão de trabalhar para que situações como essa (uma cesária desnecessária), não aconteçam nunca, jamais, a nenhuma outra mulher no mundo. E é por isso que estou trabalhando pela UMA (Universidade Materna).

Então, fiquem com o trecho que fez meu marido também repensar onde faremos nosso segundo parto, quando chegar uma nova gestação:

"Quando ficamos grávidas e começamos a entender de que se trata tudo isso, nos encontramos facilmente com as propostas convencionais: visitar ao médico.Nos submetemos às rotinas de controles e análises clínicos. As famosas ecografias, cada vez mais banais, que nos permitem espiar a vida intrauterina de nossos bebês, como se fosse um filme-  já que o mundo corre velozmente para os formatos audiovisuais- e a preparação para um parto em um estabelecimento médico. Até aí, quase nada se altera. Tudo parece normal. Entretanto..., é como uma estrada com pedágio, como todas as estradas do mundo...por onde vamos aferradas ao voltante que nos conduz a todos a um mesmo lugar...convencional e patriarcal. Materialista. Funcional.Cortadas da conexão espiritual. Fora de nós mesmas. Com a garantia de que ninguém colocará em dúvida nossa cegueira, nem nosso congelamento perfeito para seguir na lógica do patriarcado.
Não chama a atenção que uma mulher que fez amor com um homem e que jorra sexo, amor, fluidos e gemidos, tenha que se submeter a toda uma assepsia de consultório médico que nada tem a ver com "isso" que está gestando? Acaso não é um desastre ecológico que nós mulheres entreguemos nossos corpos, nossos partos e nosso amora pessoas que têm muito medo das pulsões vitais e de quem não sabemos absolutamente nada, nem elas sabem de nós? Não é espantoso? Não é evidente que, afastadas de nosso ritmo feminino intrínseco, nos venha fenomenal qualquer pensamento externo a nós e acreditarmos em qualquer coisa para nos conectar com nosso ser essencial?
Se estamos dentro da estrada, é obvio que não podemos vislumbrar quase nenhuma paisagem. Só estancando a marcha, poderemos nos dar conta de que uma grávida saudável não deveria estar em um consultório médico, esperando sua consulta durante horas para perguntar a um desconhecido como está ela mesma! Não tería de estar submetida a medos. Não teria de chegar ignorante de si mesma a seu próprio parto. Não teria de sair de sua casa para ir a nenhum lugar para parir. Não teria de ser obrigada a tirar a roupa ou a não comer, nem a ser espetada, nem teria de receber oxitocina sintética, nem que outras pessoas determinassem quando o bebê deveria nascer, nem quanto tempo deveria durar o parto. Muito menos ninguém teria de presenciar ao parto. Que história é essa de "presenciar"? Por acaso alguém presencia quando fazemos amor? Se não estivessemos congeladas, não aceitaríamos toques vaginais realizados por pessoas que não conhecemos e a quem não tenhamos permitido, nem ofereceríamos alegremente nossos braços para serem espetados sem perguntar ao menos o que estão injetando. Além disso, tampouco consideraríamos que a cesária é a melhor forma de nascer, nem desejaríamos que alguém nos cortasse com um bisturi para irmos depressa para casa. Tudo isso acontece porque massivamente transitamos pelas estradas, e quando olhamos em volta, constatamos que todos seguem pelo mesmo caminho. Então concluimos que não existem alternativas.
Que massivamente as mulheres atravessemos nossos partos desconectadas de nossas emoções e congeladas-inclusive literalmente anestesiadas- é o início da desconexão da criança que nasce. Por que se não somos parte da cena e se não colocamos nossa humanidade em jogo, o recém nascido perceberá o ninho vazio. Desse modo continuará girando a roda do desespero e da ira, logo, a necessidade de dominar ou de ser dominado. O que mais me chama a atenção é que pouquíssimas pessoas percebem isso.  Entretanto, observar as salas de parto é como observar a planificação de nossas vidas dentro do formato patriarcal. Dessa forma, Michel Odent afirma que a humanidade mudará quando mudarmos as salas de parto. Quando participarmos das cenas de nascimento, com a força arrasadoras de nossas pulsões vitais, nosso amor e nossa liberdade.!"
Afe Maria! Se eu tivesse o mesmo dom de Laura Gutman, teria escrito isso! Fecho o livro e ouço palmas, as cortinas se fecham e o público segue aplaudindo!

Espero, com todas minhas forças, ajudar as futuras mães a terem coragem de se colocarem, de protagonizarem esse rito tão importante que é o nascimento!

O Parto e a ajuda necessária!

Devorei em dois dias o novo livro da Laura Gutman "Amor o Dominación: Los estragos del Patriarcado". Ele é contundente, realista, verdadeiro, profundo, pra quem tem coragem de se olhar sem desculpas!

Chorei em algumas partes e lia em voz alta com meu marido, outras tantas! A cada página virada, eu só dizia: "Caraaaaacaaaa! É isso!" Ela escreve como se estivesse conversando conosco, nua e crua, sem rodeios, o que precisa ser dito em uma conversa de adultos, lembrando sempre que a maioria das vezes, quem reage é nossa criança interior!

Destaco dois trechos, que para mim foram emocionalmente importantes:
"A anestesia em que vivemos a maioria das mulheres desde nossa mais tenra infância, produz que, massivamente, rejeitemos qualquer proposta que convide a conectar com o ser interior e com o genuíno poder feminino ligado a vibração espontânea do corpo. Por isso não se trata de "lutar" a favor do parto natural. Sim, vale a pena informar! Entretanto, hoje em dia, em que temos acesso a todo tipo de informação somente com um clic, isso não basta para que uma mulher, com o corpo congelado e afastada de seu mundo emocional, encontre alguma vantagem em parir conectada com a sua dor.
Tenho sido testemunha de cenas nas quais uma mulher, exultante com sua experiência de parto em casa em total sintonia com o Universo, tenta relatar as vantagens dessa decisão, esperando assim convencer a outra mulher grávida de que faça algo que para ela fi tão genuíno, revelador e extraordinário. O resultado é que não funciona. Isso não interessa em nada a grávida que a escuta. E quanto mais insiste a parturiente envolta em seu próprio êxtase de felicidade, mais a grávida se agarra a seu médico convencional, que lhe assegura continuar sua vida dentro dos mesmos parâmetros que vivia antes de engravidar.
Assim, se somos uma mulher "normal" convencional, tendo sobrevivido a uma infância como todo mundo, nem a pior nem a melhor, vamos querer atravessar o parto como passamos nossa vida: resolvendo-o dentro de parâmetros conhecidos. E anestesiada, se temos de pagar custos corporais e emocionais, justamente porque estamos separadas a respeito de nosso corpo e de nosso território emocional."

Ela segue dizendo que é importante que nos preparemos emocionalmente e façamos um mergulho em nossa história e posicionamentos de vida para conseguirmos nos libertar de tudo o que é "comum" e que no fundo não condiz com nossa essência e nossos mais profundos desejos, mas que seguimos fazendo tal qual nos foi colocado culturalmente, porque é mais "seguro" fazer o que todo mundo faz e diz, porque não precisamos nos colocar (ninguém duvidará) e, consequentemente, não precisaremos nos responsabilizar pelas coisas. Demais! 
Se queremos fazer algo por essas mulheres (muitas são nossas amigas, família, ou só porque são mulheres e merecem respeito) que ainda acreditam nesses cesaristas inescrupulosos, precisamos ajudá-las a ter contato com seus sentimentos mais escondidos, suas emoções e sua força, ter consciência de seus corpos, medos e fantasias. Isso porque depois de termos filhos, seremos cobradas de alguma forma a estarmos conectadas, então que seja uma preparação para ANTES de tê-los e estarmos mergulhadas até o pescoço e não conseguirmos o distanciamento necessário para responder seguras e harmoniosas.

Outra parte que me tocou intensamente, justamente porque caí nessa lábia de cesarista e depois fui me dando conta, momento a momento, cada ação desnecessária e cada desrespeito "velado" atrás de uma conduta ou um serviço "de melhor qualidade" na cidade. O subtítulo é "A massificação dos partos: outra estrada por onde transitamos todos". Vejam no próximo post.