quarta-feira, 11 de junho de 2014

Ampliação da Maternidade

Quem me acompanha pelas aulas e me encontra em nosso canal do Youtube, sabe que desde que Lucano nasceu decidimos ficar com ele até os dois anos e após isso, voltei a trabalhar na Escola, tendo levado ele comigo para ser aluno dela.

Minhas pesquisas, artigos e programas da TV Online tem ampliado minha concepção de maternidade para uma Maternidade e Paternidade Ativa e para uma Educação Ativa. Isso significa que incluso nos cuidados com os pequenos, é imprescindível que entremos de cabeça no auto-conhecimento, pois ele vai nos permitir transformar repetições educativas sem sentido em organicidade, ou seja, nos permite olhar para nossos filhos sob uma perspectiva humanizada de educação, com mais conhecimento, do que repetição de verdades infundadas e, fundamenta relações mais seguras e amorosas, que como consequência produzem seres humanos mais conectados, tranquilos e coerentes.

Por isso, convido vocês a me visitarem no O Mundo é uma Escola, meu novo canal que tem produzido artigos, conversas e programas de TV online que engloba não só a maternidade em si, mas a Educação, numa perspectiva ampliada de como interagimos com as crianças e como nos comportamos como adultos no contexto da maternagem/paternagem, uma vez que as crianças aprendem imitando nossos exemplos.

Hoje, Lucano está com 4 anos, voltei a escola como diretora quando ele tinha 2 anos e meio, passei a olhar para a instituição escola com um olhar diferenciado, estudei sobre a Art of Hosting, sobre Inovações em Educação, sobre o Brincar e a Ludicidade e as consequências da permanência da educação sistematizada como está, há mais de 300 anos. Só que isso não me permitiu mais ficar na escola, mesmo sendo uma escola a caminho de ser diferente. Urgências do lado de fora se fizeram necessárias e resolvi, junto com meu marido, tirar o Lucano da escola, junto com minha saída. Com 3 anos e meio ele não frequentava mais a escola.

Isso gerou alguma angústia em pessoas conhecidas, uma vez que o normal seria ir à escola, e uma ex-diretora de escola, filha da vida acadêmica, escritora e pesquisadora sobre educação que tira o filho da escola gera estranheza nas pessoas. Mas justamente por estar aprofundando meu entendimento sobre a Aprendizagem, é que não posso mais deixar meu filho perder tempo com experiências que não sejam potenciais de suas habilidades, de sua relação consigo, com o mundo e com as outras pessoas.

O que fazemos com ele hoje é apresentar o mundo, nas suas diferentes e múltiplas possibilidades de interações, ampliando suas relações com pessoas de diferentes classes sociais, idades e culturas, levando-o a lugares que se estivesse na escola, não teria contato cotidiano, desde um espaço de brincar livre com outras crianças, até um galpão de reciclagem de lixo, passando pela feira da semana e apresentações culturais diversificadas. Ele tem aprendido incrivelmente rápido uma série de coisas que estavam ali, no Mundo, e que a escola não o permitia vivenciar. Além disso, está mais seguro, mais comunicativo, tem dormido melhor e adoecido quase nada.

Nossa experiência viva de educação tem despertado curiosidade de muitas pessoas e ao mesmo tempo em que a vivemos, tenho sistematizado essas experiências para entender mais a fundo, pela interface relacional da teoria com a prática, como se dá o aprendizado e como a educação pode gerar potência humana, e não pessoas limitadas a repetir o que lhes é falado a miles de anos, sem reflexão, sem entendimento real, sem criatividade e sem sentido. Por isso nosso canal do Youtube já ultrapassou as 261.705 visualizações e nossa aceitação no facebook tem tido um alcance semanal de mais de 1000 pessoas por semana.

Não somos contra escolas, as escolas são estruturas que foram montadas há milhares de anos para um fim que em sua época foi muito útil na evolução da sociedade e que podem ser repensadas para seguir contribuindo com sociedades mais cooperativas, criativas, sustentáveis e com seres humanos, mais conectados e compassivos. Estudo e escrevo para que juntos possamos refletir sobre como estamos sendo mães e pais e como, a partir de nossa experiência educativa consciente, podemos transformar a escola num ambiente de aprendizagem potente, onde as crianças experienciem suas habilidades e qualidades em um espaço seguro, dialógico, democrático, cooperativo que nos ajude a transformar o mundo que queremos a partir de nossos exemplos, de nossa responsabilidade como seres humanos potentes.




Cliquem nos links acima e recebam nossas novidades em primeira mão, para trilharmos juntos esse caminho incerto da maternidade, da paternidade e da educação.

Muito obrigada pelas visitas!
Seguimos juntos, com novidades diárias em cada um desses canais.

Um beijo, Ju.





terça-feira, 29 de abril de 2014

Educar para ser feliz?

Preciso respirar fundo e, antes de trazer luz a essa situação, mandar todo meu amor e acolhimento para esse menino!
Faço minha denúncia de outra forma: ninguém aprende a ser pai e mãe e mais do que isso, as pessoas passaram pela escola, mas seguem se tratando desse jeito, perpetuando o bulling, o desrespeito, a violência, quando o que todo mundo quer é ser feliz e ter um pouquinho de paz…Por que então, não começamos a fazer isso acontecer já, agora, em nossas casas, com nossos filhos, que reproduzirão o que acontece com eles na infância?
Se a gente aprende a ser pai e mãe, sendo, que pelo menos possamos aprender a sermos humanos antes de sermos pais. Falar em bulling, desrespeito, violência e “ser humano” te parece muito forte? Fora do contexto? Vamos por partes:
Bulling: os olhos de pais, mães e educadores e pesquisadores no mundo todo estão voltados para essa prática e esse conceito. Bulling é uma forma complexa de violência, que pode ser silenciosa e cruel, para além do que nossos olhos conseguem ver e perceber como violência. Pesquisas apontam que vítimas de bulling desenvolvem medo, ansiedade e podem inclusive, com números bastante altos, chegar ao suicídio.
Você me diria: “Ah! Mas isso é muito forte, não acontece por aqui, só na televisão, nas escolas públicas e nos Estados Unidos…” Nada disso! Laura Gutman explica muito bem isso e há mais de 30 anos é pesquisadora do desenvolvimento humano: as violências se tornaram tão comuns, que as pessoas não percebem mais os absurdos que estamos fazendo, sem refletir quando reproduzimos frases e ações advindas de uma sociedade patriarcal que funciona segundo a lógica de que alguém tem que dominar alguém e outro alguém tem de ser dominado.
No livro “Amor o Dominación: los estragos del patriarcado” Laura Gutman argumenta que se continuarmos vivendo segundo parâmetros de competências, será muito difícil conseguir modos de convivência que incluam o respeito mútuo. Ela afirma que precisamos entender que todos dependemos da cooperação e não da competição, que a hierarquização de uma parte da população sobre a outra não tem funcionado e que a diversidade não significa superioridade ou inferioridade de condições.Precisamos, conscientemente, refletir sobre o Amor ou a Dominação, a Solidariedade ou a opressão para desativar esse modo de operar de forma automática que não nos faz mais feliz!
Essa idéia de que o adulto precisa ser superior à criança e que esta deve respeito ao adulto é fruto dessa configuração social que tem trazido tanta discórdia, tanta violência, tanto desrespeito e tanta tragédia! A criança, como o adulto, deve aprender e entender que precisamos respeitar A TODOS. E ela aprende isso, sendo respeitada! Algumas pessoas diriam:
“Ah, mas ela é criança!”
Justamente por isso, precisamos perceber o que estamos fazendo com elas, como as temos tratado, para que o resultado seja o que temos visto: adolescentes desrespeitosos, agressivos, adultos que não só desrespeitam aos outros como a si mesmos!! Já pararam para pensar que quando tratamos alguém bem, seja lá quem for, esse alguém nos trata bem também? É simples assim, crianças tratadas com respeito, respeitam aos outros (e não só aos adultos, como as outras crianças).
modus operandi a que estamos habituados como sociedade tem muitos argumentos sobre as crianças: que elas fazem manha, que elas são agitadas, que não se concentram, que precisam aprender a respeitar os mais velhos, que estamos sendo dominados pelas crianças e seus quereres…Mil desculpas para não olharmos para nós mesmos, para jogarmos para os outros (no caso as crianças) a responsabilidade de se comportarem como adultos…não parece absurdo? Estamos invertendo os papéis!! Se nem os adultos se comportam como adultos, se nem ao menos conseguem responsabilizar-se por suas próprias escolhas, se estamos sempre culpando os outros pelo que acontece no mundo e conosco…E somos nós, adultos, que temos de ensinar, através de nossos exemplos, como respeitar, como cooperar, como digerir nossos sentimentos e lidar com eles sem ter “xilique”. Quanto adulto dá xilique por aí?
Resultado de violência. Sim, damos “piti” quando não sabemos lidar com nossos sentimentos, porque desde crianças não somos verdadeiramente escutados e orientados amorosamente e isso é violência, das piores, silenciosas. Qualquer comportamento da criança é entendido como “manha” ou “estrago” ou “inadequado”, e os adultos, sem saberem como lidar com a vergonha de ter o filho que se atira no chão do supermercado ou enfrenta nossos mandatos ou demonstra fragilidade, ficam nervosos e agem com sarcasmo, opressão, intimidação, ameaça (verbal, física, silenciosa).
Eu não aprendi a respeitar as pessoas porque apanhei, sinceramente, às vezes ainda acho que gritar funciona porque amedronta o outro e, se o outro sente-se mais fraco, ele faz o que quero. Aparentemente funcionou, mas a relação se quebra, a confiança se esvai, o respeito já tinha ido antes e assim se constróem relações aparentemente cordiais, um com medo, o outro sentindo-se superior e assim caminha a humanidade: a um abismo de solidões e infelicidades dos quais precisamos despertar. Aliás, eu respeito quem admiro!
As crianças vivem em um mundo cheio de fantasia, de realidades internas diferentes das nossas, porque seu amadurecimento físico, cognitivo e emocional está em constituição. Mesmo que o que ela diga, para nós, não seja “bem assim”, faz parte de sua realidade interna e precisa ser acolhido com respeito e direcionado com amorosidade. Se ela diz, como o menino do vídeo, na hora de estudar: “A vida não é fácil!” e o pai constata: “Então por que quando você está na piscina, no karatê e no futebol é fácil? Por que quando tem que estudar pra ser inteligente, você não quer? Só quer a vida pra brincadeira?”
SIM!!! Criança aprende brincando, já está mais do que provado pela ciência.  Por que esse pai não se pergunta a si mesmo sobre isso? Tem fundamento! As crianças pequenas, por mais que a legislação brasileira tenha imposto o primeiro ano a partir dos 6 anos, estão em franco desenvolvimento físico, e as experiências físicas (como nadar ou qualquer brincadeira que envolva atividade do físico) são suporte para um desenvolvimento cognitivo e emocional futuro. Quando a criança brinca, está desenvolvendo seu pensamento. E mais, a neurociência explica que se ela tem esse espaço preservado, não sofre ameaças e sente-se amada e acolhida, desenvolve inteligência. E aqui não estamos falando em reprodução de conteúdo: a inteligência emocional é a grande sacada de pessoas bem sucedidas na vida: felizes!
Veja aqui dois minutos da sabedoria de minha mestra Maria Amélia Pereira, para arrebatar tamanha tristeza pelo vídeo do menino!Esta conversa está pesada demais?
Fechar os olhos para as violências silenciosas e as idiossincrasias do mundo, dói menos, dá menos trabalho, mobiliza-nos menos internamente…Mas também perpetua os estragos que temos visto na sociedade, desde a corrupção, passando pela violência obstétrica até a forma como cada um de nós se sente todos os dias, lá no íntimo, quando sai de casa.  Não consigo rir nem ficar quieta diante do posto no vídeo do menino que conclui: “A vida não é fácil”. Por que a gente precisa mostrar às crianças que existe na vida um lugar (na família, junto aos que amamos, ou dentro da gente) que vai nos acolher, apensar das coisas diversas da vida. Uma criança que conclui isso, vai perpetuar o que?
Você ainda diria que “não é pra levar tão a sério, fazer tempestade em copo d’água, porque é só uma criança”?  É por isso que a gente segue se desrespeitando! Que a gente segue buscando felicidade fora da gente, pensando no futuro e não no presente, até porque viemos de uma infância onde pensaram isso sobre nós também, não é? O que faremos com isso?  Cada um sabe o que pode fazer, para mudar, a partir de si, as relações que estabelecemos com as crianças e como as ajudamos a serem adultos melhores que nós.
Mas se você entende da mesma forma que a Comunicação Não Violenta, a Maternidade Ativa e Consciente são das coisas mais preciosas que podemos exercitar para mudar a visão dos meninos sobre a vida, vamos juntos! Divulguem essas idéias, clicando nos links das redes sociais abaixo para que possamos mostrar que há saída e que ela está dentro de nós, nas nossas atitudes.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Fazendo nossa parte para promovermos nascimentos mais humanos e, como consequência, uma sociedade mais equilibrada.

Este post é um convite para todas as pessoas refletirem como deram à luz, como foram levadas aos mais de 80% de cesarianas (principalmente quem tem convênio de saúde), para olharmos o que realmente aconteceu conosco, se os motivos que nos levaram a cesária eram motivos baseados em evidências científicas ou indicações fictícias (que você pode conferir aqui no site da Dra. Melania Amorim, médica obstetra, pesquisadora, mestre, doutora, pós-doutora duas vezes, especialista e professora universitária).

Refletindo com sinceridade, saberemos em que caso nos encontramos. Eu passei pela violência que considero a mais perigosa, porque é mascarada, silenciosa, que perpetua uma cultura da Industrialização que hegemoniza não só os nascimentos, como a educação, e que exatamente por isso, produz uma sociedade doente, infeliz, violenta. Como todos nós queremos ter paz e ser felizes, a reflexão honesta se faz necessário para que consigamos fazer escolhas mais conscientes e paremos de fazer as coisas "porque é assim", "porque me disseram que é isso" ou "porque não tem outro jeito". Somos seres humanos dotados de muita cultura e história que nos fizeram evoluir e por isso podemos refletir sobre as coisas que achamos "normais" e que seguem nos fazendo sofrer.

Bióloga, mestre em psicobiologia, doutora e pós-doutora em farmacologia, hoje terminando novo doutorado, em Saúde Coletiva, pesquisadora da assistência ao parto no Brasil, da violência obstétrica e da medicalização da infância e do corpo feminino. Mãe da Clara, que ela considera seu mais relevante título, Lígia Moreiras Sena está em fase de coleta de dados em sua pesquisa de doutorado e nos convida a participar e contar o que vivenciamos.




A pesquisa dela é de grandissíssima relevância não só no mundo científico, mas principalmente pela repercussão social que pode ter. Por esse motivo, penso que quanto mais pessoas puderem participar de sua pesquisa, a realidade obstétrica pode ser compreendida de forma mais ampliada e mais clara e, a partir do conhecimento dessa realidade, sim, podemos mudar a forma como nascem as crianças em nosso país e que determina o tipo de sociedade que temos. 



quinta-feira, 27 de março de 2014

De corpo (mente, coração e espirito) presente!

Adoro desafios, eles me mostram uma página em branco, uma possibilidade de pitar a página em branco com novas cores, formas diferentes, imaginar o que eu quiser, e para mim isso é confortável! E é com isso em mente que escolhemos algo desconhecido, que estamos olhando com mais atenção para nós enquanto estamos com nosso filho e exercitando mais a escuta amorosa e atenta ao que ele manifesta (mesmo que nas entrelinhas).

Nossa sociedade está constituída de tal forma que pouco depois que os bebês nascem já somos chamadas para longe deles, trabalhar, produzir e deixar nossos filhos aos cuidados de outras pessoas. Valorizo o trabalho, amo estudar e produzir, mas neste momento quero aliar as duas coisas, mas mais do que isso, ficar mais tempo com meu filho. O crescimento deles acontece num piscar de olhos e se ficamos longe deles a maior parte do dia, não vemos mesmo por que caminhos eles estão pisando, com que pedras tem se deparado, em que águas tem banhado suas alegrias.

A evolução da sociedade tem nos permitido, inclusive, rever como estamos produzindo, como vivemos e o que queremos para o mundo, ou que mundo queremos para nossos filhos. Muitas empresas já tem horários flexíveis, muitas pessoas têm tornado-se empreendedoras ou profissionais liberais, justamente para conseguir fazer escolhas mais conscientes (no sentido de poder escolher o que deseja para sua vida e não ser arrastado pelas circunstâncias).

Algumas mães com quem converso já me disseram: "tenho que ir trabalhar, fazer o que?" Respeito. Porém não acho que a vida é encerrada em poucas opções. Ao contrário, nós somos protagonistas de nossas vidas e podemos escolher viver de outras formas, se quisermos, trabalhar de outros jeitos e em outro lugares, quem sabe? Não precisamos nos encerrar a vida toda esperando a aposentadoria chegar, muita coisa passa enquanto esperamos o final de semana, as férias, a aposentadoria. Temos todas as opções do mundo para nos sustentar e viver melhor.

Estar mais tempo com meu filho hoje significa trabalhar só de manhã, enquanto meu marido fica com ele e estar com ele todas as tarde, enquanto meu marido trabalha. Significa mais que isso, levá-lo à natação e ficar lá olhando ele se relacionar com os colegas e com seus limites e potencial. Levá-lo à pracinha e brincar com ele no balanço, vibrar com suas conquistas, estar apoiando para fazer novas amizades. Ligar muito menos a televisão e chamá-lo para ajudar a colocar a mesa, fazer bolo juntos, arrumar a cama, ele é um ajudante e tanto! Todas as crianças são, adoram ser úteis para mamãe e papai, faz parte da construção da autoestima deles!

Também significa olhar mais para minhas reações ao que ele faz e o que sinto quando ele me contraria (e ele faz muito isso). Estar presente no instante em que "ele me tira do sério" e me questionar internamente: "Por que o que ele está fazendo, me tira do sério? Por que quero obrigá-lo a fazer algo que ele está dizendo que não quer? Por que estou tão sem paciência hoje? Onde e por que deixei de me divertir? Por que não pode? O que será que ele está querendo dizer com isso? Por que estou apressada e por que estou querendo fazer outra coisa enquanto estou aqui?"

Tenho questionado sinceramente essas coisas, penso que mesmo que se fique um mínimo de tempo do dia com as crianças, podemos estar mais alertas a essas ações e reações silenciosas e que marcam toda uma existência. Percebo que são coisas que passaram de geração para geração e que vão marcando a vida de quase todo mundo, quando "o outro é o culpado pelas mazelas da minha vida, quando não me responsabilizo pelo que estou sentindo, quando fazemos ou dizemos coisas 'por que é assim', repetindo coisas que nem fazem mais sentido só porque não paramos para refletir mais profundamente sobre elas, quando seguimos regras que nem servem mais para nós, porque estamos acostumados, etc".

As crianças aprendem por imitação, elas imitam nossos gestos, nossas reações, nossas caretas, nossas sutilezas, nosso abandono, nossa presença e nossas idiossincrasias. Estarmos atentos ao que estamos oferecendo para que eles imitem e se constituam, é o que estamos exercitando neste momento.

Perfeição? Não! Nem sempre estamos presentes, às vezes com mil coisas na cabeça, tentamos brincar com ele, mas ele percebe que estamos em outro lugar, queremos cumprir outras tarefas, às vezes ainda insistimos com regras que nem tem tanto sentido para nós se pararmos para pensar, porque foi assim que fomos criados e repetimos isso naturalmente sem questionar. Quando lutamos com a presença, o Lucano manifesta isso na hora com mal comportamento, com birra, com agitação. Se conseguimos ouvi-lo, sentir mais do que pensar e agir com ele com mais acolhimento do que por exigência, tudo flui e saimos todos felizes.

Isso não significa de forma nenhuma que "ele faz o que quer", justamente porque algumas pessoas acham mais fácil não entrar "no embate", porém não se trata de um "embate" se trata de uma relação de amor, onde estou exercitando estar 100% presente com ele, respeitando sua individualidade, sabendo que mesmo que ele seja pequeno ele tem vontades e predileções. Mesmo assim, tem hora para algumas coisas, outras não vai poder mesmo, algumas a gente pode negociar, outras não, às vezes ele vai espernear, mas não vai dar mesmo, enfim, enfrentar isso de coração aberto, ouvindo com atenção e respondendo com mais amorosidade é um exercício difícil mas muito, muito recompensador!

Já vimos que para conseguirmos, é preciso muita entrega, atenção plena e honestidade sobretudo conosco...e o mundo em massa realmente ainda pensa que "o mundo não pára para isso" ou dá muito trabalho. Realmente, dá trabalho, um trabalho interno duro, mas muito menos trabalho do que ter um adolescente ou adulto revoltados com a vida, inconscientes de sua potência, que necessitam de altas doses de adrenalina (ou outras coisas) para sentirem-se plenos, que trabalham pra burro e não tem tempo para serem felizes, depressivos, obesos, sentindo-se sozinhos na multidão, hiperativos ou com défcit de atenção, ou os dois!

Quem acelera ou desacelera o mundo somos nós, estamos exercitando a presença. Quem quiser venha junto, e nos apoiamos e crescemos juntos, com as alegrias e adversidades!

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A Maternidade e o Sono

Muitas vezes, em meus atendimentos, as mães querem saber como dormir mais. A verdade é que o sono muda e o que precisamos saber é como aproveitar o tempo para estarmos descansadas. No primeiro mês do Lucano eu aproveitava o tempo que ele dormia para fazer coisas em casa, mas com o tempo fui percebendo que, como eu estava exclusivamente com ele, podia aproveitar o tempo que ele tirava uma sonequinha de manhã, por exemplo, para dormir também. Isso me ajudava a repor um pouco as energias.

A imagem que tenho hoje do período de puerpério, depois que temos nossos bebês é que assim como ele vai acostumando com seu corpinho e com o mundo, nós também podemos ir acostumando que o tempo de quem tem filhos é outro, e nos permitir ir mais devagar na vida. Tempo de"mamãe-ursa hibernando na caverna." Depois saimos da hibernação, mas se pudermos lembrar de ir mais devagar, daremos a chance a nossos filhos de viver o presente, olhando cada coisa no caminho, sem pressa, percebendo a si e ao mundo com calma, para estarem realmente atentos à vida e não serem, mais tarde, taxados de hiperativos, um sintoma que a meu ver nasce da forma como lidamos como pais, com eles.

Falando em ir mais devagar na vida, faço uma relação importante da pressa com o sono. Crianças hoje parecem "ligadas na tomada" e não conseguem descansar. Qual nossa parcela de contribuição para que as crianças estejam a mil? Como temos construído seus cotidianos? Damos tempo ou oportunidade  para eles ficarem quietinhos?



E à noite? Como fica nossa casa? Que tipo de estímulos o bebê recebe à noite? Que tipo de alimento temos comido (e que passa para eles pelo leite)?

No livro da Laura Gutman, A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, tem um capítulo inteirinho sobre o sono e como lidamos com ele. Ela comenta que quando as crianças não dormem, queremos soluções imediatas e vai mais fundo nos questionamentos: O que significa o fato de uma criança não estar dormindo bem? E lembra que é importante levarmos em conta a idade das crianças, quando discorremos sobre o sono.

Ela diz que "há, concretamente, em nossa sociedade, uma tendência alarmante de afastar o máximo de tempo possível as crias do corpo da mãe."  Vocês já perceberam que crianças que são carregadas em sling são muito mais tranquilos, tem menos cólica e dormem mais? O calor do aconchego materno dá tranquilidade aos bebês e ajudam a manter o nível hormonal de prazer e relaxamento em ativação. Procurem carregar mais os bebês no sling, ao invés do carrinho, tirem uma soneca com eles de manhã. Façam Shantala, massagem para bebês. Cuidem para não comer alimentos estimulantes. Deixem a casa tranquila, à meia luz, depois das 19h. Nãi liguem a TV à noite antes do bebê dormir. São estimulos que a gente cuida e que podem fazer uma GRANDE diferença no sono de nossos pequenos.

Além disso, quando o bebê está em atividade, atento, olhando para todos os lados, mexendo bastante pernas e braços, se estivermos atentos, poderemos perceber que é hora de brincar. Brincando nos momentos ativos, eles usam bem suas energias, interagindo com qualidade e, na hora de dormir estarão cansados. O que vocês fazem nas horas ativas do bebê? E o que fazem quando eles dormem? Isso influencia diretamente em como e quanto eles dormem!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Parto! Que parto!

Já falei muitas vezes sobre ele, tem pesquisas científicas e textos muito preciosos para podermos nos preparar para ele inclusive até antes de engravidar, porque as escolhas que tomamos (ou somos levadas) podem ser conscientes, baseadas em cientificidade e não na cultura do medo.

Este último mês acompanhei uma gestante que me ligou com 39 semanas, dizendo que queria muito ter um parto normal e que tinha acabado de sair da consulta em que o médico pressionou dizendo que se ela não tivesse dilatação até a próxima semana, marcaria cesária...ou seja, acabou a produção de ocitocina, ela ficou tensa, o médico teve a capacidade de dizer a ela:

 "Você só precisa dilatar, o resto como estourar a bolsa ou fazer manobra pra o bebê descer, eu faço" (e nas entrelinhas vai um: se você não tem capacidade só pra dilatar, vai ter que fazer cesária).

Avisou: "Se a bolsa romper antes do Trabalho de Parto, tem que fazer cesária"
(ou seja, o Lobo Mal vai comer a chapeuzinho, seja lá o que ela tente fazer)

Fiquei arrasada!! Como a indústria do medo faz-nos confiar em médicos que desconsideram a natureza do corpo, a extraordinária capacidade que nosso corpo tem e, apressando as coisas, dão desculpas como: "Viu, você não dilatou"...ou "É, você não entrou em trabalho de parto, tsc, tsc, tsc". E a gente acredita na nossa falsa incapacidade, gerada por uma antecipação do tempo que não permite que o corpo (nosso e do bebê) esteja pronto.

Aqui tem textos muito bacanas sobre o parto, a violência no parto (sim, pressionar uma pessoa a fazer uma cirurgia no lugar do parto, é violência obstétrica):

Por que a cesareana com hora marcada é a opção menos segura de parto? da Flávia Maciel de A.F. de Mendonça, médica ginecologista.

Eu Acredito. da Kalu Brum, jornalista, doula fotógrafa, professora de yoga e meditação..

Violência Obstétrica by Ana Cristina Duarte, Obstetriz e Educadora Perinatal.

E todas as pesquisas feitas pela Dra. Melania Amorim, médica ginecologista e obstetra, mestre, doutora e pós doutora mais de uma vez (e muito mais)...Vejam em Estuda Melania, Estuda

E tem muito mais pra quem quer estar bem informada e bem preparada pra não cair na conversa de médicos que, aparentemente nos tratam super bem, são queridos e acabam nos levando a uma cesária desnecessária que produz efeitos colaterais tão desastrosos (incluindo os emocionais e relacionais)...

Sobre a Recusa de Procedimentos Médicos, das lindas e competentes profissionais do "Você quer parto normal? Pergunte-me como."

E, claro, a Cientista que virou mãe, Ligia Moreiras Sena.

Dois vídeos sobre o assunto:
Violência Obstétrica, a voz das brasileiras. 
Produzido por Bianca Zorzam, Ligia Moreiras Sena, Ana Carolina Franzon, Kalu Brum, Armando Rapchan.


Que nenhuma outra gestante passe por violência obstétrica (mesmo e inclusive, velada, com cara de "sou querido e estou cuidando de você"...porque você não sabe se cuidar...)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Aleitamento e Complemento: Importante pensar!

Quantas mães não ouvem dizer que depois de determinada idade já não precisam  

amamentar porque o seu leite deixa de ter benefícios? A OMS recomenda que se amamente

em exclusivo (apenas leite materno) até aos 6 meses e que se prolongue, em conjunto 

com outros alimentos, até pelo menos 2 anos de vida da criança.



Minha amiga e parceira de uma jornada bacana, Ligia Moreiras Sena, que eu gostaria de conviver muito mais, escreveu um texto MARAVILHOSO sobre Aleitamento e Complementação, sob o cuidado e embasamento de quem é pós doutora e sabe MUITO BEM o que está falando. Ela lançou, em Junho, uma postagem coletiva sobre o assunto e por ocasião disso, pesquisou e encontrou um texto de Marina Ferreira Rea, intitulado "Substitutos do Leite Materno: Passado e Presente" que recomendo muito, mas peço licença para a Ligia e deixo-as com o importante texto dela, para que todos possam ter informação correta e criticidade necessária sobre a industria da medicina:

Aí vai o texto da Lígia, do Blog Cientista que virou Mãe: ela faz uma introdução dizendo como encontrou o texto da Marina, resume algumas idéias interessantes da pesquisa e, como só ela sabe fazer, discorre sobre o assunto com conhecimento de causa. Agradeço à Lígia!!!

"A despeito de ser um texto relativamente antigo, de 1990, é absolutamente atemporal. Traça todo o histórico da criação e propagação comercial e social dos substitutos do leite materno. E é um daqueles artigos que, durante a leitura, vai te dando vergonha de fazer parte da espécie humana, que muitas vezes é Homo nada sapiens. A história dos substitutos do leite materno é uma história mais ligada ao comércio que à saúde, sinto lhes dizer... E é uma história muito feia.
Nesse artigo, há uma diversidade de informações essenciais, daquelas que todo mundo precisaria ter acesso.
Por exemplo:
  • historicamente, quando um bebê não era amamentado por sua mãe - o que por si só já era um evento raro - era o leite do peito de outra mãe que o alimentava. Eu, particularmente, gostaria de estar vivendo num mundo em que as amas-de-leite não fossem mais artigos raros. Talvez tenha sido por isso, também, que fiz questão de doar muitos e muitos litros de leite para o hospital infantil da cidade, quando a minha produção ainda não havia se regularizado;
  • o primeiro a recomendar o uso do leite da vaca como alternativa ao humano foi um médico chamado Underwood. Sabe quando? Em 1784. O interessante é notar o contexto histórico da época: as mulheres burguesas e as que tinham melhores condições financeiras recusavam-se a amamentar seus filhos, vejam só que coisa...
  • foi um outro médico, chamado William Cadogan, que, embora defensor do aleitamento natural, instituiu a regularidade das mamadas, ou seja, que os bebês fossem alimentados em horários fixos, a cada 4 horas. Foi ele também que "proibiu" as mamadas noturnas. E você sabe por quê tantas regras? Porque ele, pessoalmente, acreditava que alimentar um bebê era um momento de lhe passar uma infecção. Meio problemático esse doutor, não? Isso no século 18, tá? Então, minha querida, se você é daquelas que colocou horário para a mamada porque sua doutora disse que era pra fazer assim, sinto lhe dizer: você não é nada moderninha, você é antiquada pacas. Ouso até dizer que você é demodê, baby, datada mesmo. Sai dessa, fofa. Vem pra modernidade. Seu bebê não é relógio. Ele é um bichinho. E, como tal, tem fome a qualquer hora;
  • essa parafernalha toda de fórmulas, complementação e tal começou com o leite condensado - que não era propriamente o leite condensado que a gente conhece hoje. Mas foi difundido comercialmente por uma empresa cujo nomezinho você conhece até hoje: Nestlé. E só foi difundido assim tanto porque coincidiu com o momento da revolução industrial, quando as mulheres passaram a trabalhar grandes cargas horárias, mesmo na época da amamentação. O seguinte trecho, inclusive, está nesse excelente artigo:
"Page, um americano que formara na Suíça a Anglo-Swiss Condensed Milk Co., supôs corretamente que o leite condensado produzido podia ser estocado e utilizado pela população em crescimento da Inglaterra no período da industrialização". 
Ou seja: o substituto do leite materno não foi feito "com carinho, com amor, para mães alimentarem, também com amor, seus filhos". Foi feito pra população cair de boca no trabalho. Foi feito pensando no crescimento da industrialização, do capitalismo selvagem. Quando certas indústrias, portanto, usam o slogan "Faz bem", não está mentindo. A questão é: faz bem pra quem, neném?

  • o artigo também chama a atenção para a relação digamos, "íntima", que existe entre os fabricantes de substitutos ao leite materno e os médicos. A autora cita, inclusive, uma outra referência para dizer que
"os fabricantes vendem, mas os médicos controlam: uma relação mútua vantajosa entre médicos e companhia de alimentos infantis está estabelecida". E afirma que essa mesma referência utilizada sugere que os médicos estão desejosos de cooperar porque vêem na alimentação artificial um meio de controlar os pacientes "porque estes passariam a procurá-los mais".
Se, nesse momento, você está achando tudo isso muito exagerado, vou te contar uma coisa. Eu perdi as contas do número de mulheres que já me contaram terem saído da maternidade com uma prescrição de NAN. Sabe? NAN? Aquele complemento que é dado quando a mulher não consegue produzir leite suficiente, ou quando não é bem orientada, ou quando simplesmente não quer amamentar? Tem muito médico por aí sim senhora prescrevendo NAN como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Mais natural do mundo? Peraí, senhor doutor. Alto lá. O mais natural do mundo é amamentar. Dar complemento não é natural. Complementação deveria ser utilizada APENAS e SOMENTE quando a mãe, por diferentes motivos, não está conseguindo produzir leite em quantidade suficiente. E concomitante a tantas técnicas e compostos lactogogos (que induzem a lactação) que existem. Eu, que sou doutora mas não sou médica, conheço vários, imaginem vocês que estudaram para isso - ou que deveriam ter estudado, pelo menos...

Dar receita de complementação para uma mulher que tem total condição de amamentar é ir contra o "a ninguém darei por comprazer nem remédio nem um conselho que induza a perda", do juramento de Hipócrates. Ou, ainda, é agir contrariamente à Declaração de Genebra, quando esta diz "não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza".

Não se engane você, distinta e consciente mãe que utiliza complementação por não ter podido amamentar - a despeito de querer muito -, pensando que foram feitos para você e seu filho. Não, não foram. Os substitutos ao leite materno foram desenvolvidos pensando naquelas mães que OPTARAM por não amamentar. Porque aquelas que, por razões diferentes, não conseguiram amamentar, tinham seus filhos alimentados por outras mulheres, por mães-de-leite, por amas-de -leite. As fórmulas e complementações tiveram sua origem visando especificamente um público: as mães que NÃO QUISERAM amamentar.

Uma mulher que não quer amamentar está negando ao seu filho o direito básico da melhor saúde que poderia ter desde o nascimento. E não, essa não é a minha opinião, essa é uma constatação. E é pra você, ó nobre senhora, que toda essa parafernalha midiática é feita.

A complementação, os substitutos ao leite materno, salvam muitas vidas e, quando bem administrados, mostram incontáveis benefícios. E é para isso que deveriam ser utilizados. No entanto, existem muitos estudos mostrando que a quantidade de bebês que realmente necessita dos substitutos ao leite materno é muito pequena. A autora do artigo que menciono neste texto, inclusive, faz o seguinte comentário:
"os lucros das companhias, entretanto, não teriam sido auferidos se só este mercado [os dos bebês que realmente precisam de complementação] fosse atingido. Daí a tarefa de criar nas mães (e nos médicos) a "necessidade" de tais produtos formulados ter sido dever bem cumprido através das técnicas de "marketing" por todos esstes últimos cem anos. A imagem do produto perfeito, que leva a bebês robustos e facilita a vida da mulher, é vendida com toda a sofisticação e invade os vilarejos mais distantes". 
Eu não precisei oferecer complementação à minha filha, com a graça da Deusa das Divinas 
Tetas, a quem agradeço todos os dias com toda devoção. Se precisasse ter oferecido por não ter podido amamentar, faria com a consciência tranquila de estar fazendo o que é melhor pra ela, depois de tentar tudo o que fosse possível para amamentar. Mas não me deixo ser pescada por outros produtos dessas mesmas indústrias. E é por isso, também, que eu não ofereço à minha filha nenhum tipo de alimentação pronta de indústrias como essas. Nenhum potinho. Porque acho que já tem mulher demais sendo pescada pelas promessas de aparente facilidade e saúde "enfrascada".